Com alguns rabiscos em uma folha sulfite feitos por uma criancinha, surge um cavalinho colorido perto de um lago. Com carinho e orgulho o guarda em sua pasta de desenhos. Depois de quase trinta anos essa obra ganha um singelo título “Cavalo Branco Pastando”. Quando eu o encontrei, compreendi o quanto foi necessário começar por aqueles rabiscos para chegar nos dias atuais. A partir dessa análise do meu passado, observei o quanto minhas obras recentes vem envolvendo elementos históricos.
Duas obras que são exemplos de resgate de pessoas históricas são “Ponto de Encontro” (Figura 1) e o “O Cara do Jazz” (Figura 2). A obra “Ponto de Encontro” mostra três músicos em plena ação e uma figura feminina ao fundo. Uma das personagens principais segura uma viola clássica e aponta o arco para um outro músico. Essa figura representa um dos maiores gênios da música erudita: Ludwig van Beethoven (1770-1827) se misturando ao cenário e interagindo com pessoas atuais, trazendo uma nova realidade ao observador. Atualmente a obra foi escolhida para exposição online da Galeria de arte EUEARTE. Já “O Cara do Jazz” marca o ícone Thelonious Monk (1917-1982) sentado em seu piano com uma garrafa de bebida. O músico foi considerado pianista único e um dos mais importantes do Jazz.
Para a valorização de elementos históricos duas obras se destacam: A “Capela Centenária Nossa Senhora da Piedade, Zona Rural, Bairro Elhiu Root de Araras – São Paulo” (Figura 3) e “Tumulo do Barão de Grão Mogol” (Figura 4). A Capela Nossa Senhora da Piedade está localizada na zona rural da cidade de Araras – SP e faz parte do cenário de uma antiga estação de trem. A igrejinha – apelidada pelos moradores locais – aparenta pintura desgastada. Seu sino de bronze foi roubado e resgatado em um antiquário para novamente desaparecer e até o momento não ser mais localizado. A segunda obra “Túmulo do Barão de Grão Mogol” eternaliza Guálter Martins Pereira (1826- 1890) , o Barão de Grão Mogol, homem envolvido em histórias que vão de agressões aos seus escravos a feitos de ajuda na Guerra do Paraguai. Seu corpo foi transladado para a fazenda na década de 1920, fazendo a sua vontade. O Túmulo, localizado em um canavial na Fazenda Angélica em Rio Claro – SP, está bastante deteriorado e teve sua lápide roubada. De rabiscos, lugares a pessoas históricas, o ontem faz conexão com a evolução do hoje, e o hoje será a base do amanhã. Resgatar e preservar o passado é dar vida a nossa história. Tudo tem um início e deve ser valorizado mesmo que seja um singelo desenho de um cavalinho branco pastando perto de um lago.
Laís Lovison Sturaro é natural de Araras (SP). Mestra em Ciências Médicas pela Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP). Atua nas artes plásticas utilizando diferentes técnicas de pintura, como aquarela, acrílicas e óleos. Iniciou seus estudos de desenho artístico em 2003 na Oficina de Desenho Artístico, Anime e Mangá em Araras (SP). Assinou sua primeira obra acadêmica em 2006, e sua primeira obra contemporânea em 2017. Em 2021, foi selecionada entre as 24 melhores obras contemporâneas brasileiras para exposição virtual da Galeria EUEARTE.