[CAÇADORA DE HISTÓRIAS] PALOMA SCHELL: UMA FLOR QUE DESABROCHA ATÉ NO DESERTO

A gente tem uma tendência a sempre olhar o copo “meio vazio”; de se perguntar “porque comigo?”; de reclamar, sofrer.

Mas nada disso nos faz desabrochar, perfumar a atmosfera em que habitamos, inspirar pessoas. Esses pensamentos e sentimentos são como uma areia movediça que nos faz afundar e nos perdermos de nós mesmos.

Conheço uma flor que precisou morrer e renascer em solos adversos, mas que escolheu o caminho do renovar, reviver e se reinventar. Não é uma magnólia, margarida ou tulipa: é Paloma Schell.

Foto: Arquivo Pessoal

Nascida em 28 de Outubro de 1982 na capital gaúcha, é filha de Fernando e Sônia, e seus irmãos são Fernando, Fernanda e Alexandre. Sua mãe costurou algodão, linhas e sonhos por grande parte de sua vida. O pai é fotógrafo.

Aos 6 anos de idade, a pequena Paloma foi viver na cidade de Charqueadas, e lá ficou até os 12. Ela lembra de ter passado por momentos bastante delicados tanto emocionais quanto financeiros durante o tempo nessa cidade interiorana. Mas com a ajuda de tios muito especiais, se mudou para Novo Hamburgo, onde sua mãe conseguiu manter ela e seu irmão caçula com toda dignidade através do trabalho como costureira. Quando Paloma fez 15 anos, começou a trabalhar com a tia no salão de beleza dela, lavando cabelos e fazendo as unhas das clientes.

Mais tarde, aos 19, conheceu Leandro, seu parceiro até os dias de hoje. Ele morava em Porto Alegre e, por conta da distância entre as cidades, decidiram se casar com menos de 2 anos de namoro, pois a vontade de ficar perto um do outro os fez apressar os planos.

Na época, ele montou um salão de beleza na casa dele para que ela pudesse trabalhar. Até que Leandro sofreu um sequestro relâmpago quando estava na faculdade, o que deixou  traumas e os motivou a mudar para Florianópolis. Um ano após o casamento, recomeçaram a vida na mágica ilha catarinense.

Na chegada, já conseguiu trabalho num salão de beleza na Praia dos Ingleses, bairro em que moravam, e ele em uma imobiliária em Jurerê.  Um ano depois, ele saiu da imobiliária e montou a sua própria.
Com a vida financeira melhorando, decidiram  mudar de vez para Jurerê, para ficar mais perto  do trabalho dele. Com a distância entre os dois bairros, ficou muito difícil que Paloma seguisse trabalhando no salão. Saiu e mais uma vez, se refez: Virou “sacoleira” e passou a vender roupas para as amigas, vizinhas e também para as clientes do seu parceiro.

Passado algum tempo, quando completou 25 anos, Paloma aterrissa numa terra desconhecida mas que mais tarde se transformaria na sua vida inteira: A maternidade.

Foto: Arquivo Pessoal

Engravidou do primeiro filho, e foi aí que a fotografia newborn entrou em sua vida.

Logo que começou a sentir o primogênito dar cambalhotas em seu ventre, começou a pesquisar fotógrafos para registrar a fase mais linda e profunda de sua vida. De site em site, se deparou com o de duas irmãs gêmeas norte-americanas que faziam fotografia newborn, que Paloma ainda não conhecia.
Logo que viu as fotos, foi amor à primeira vista.

Na época, começou a procurar profissionais brasileiros que pudessem fazer o ensaio com seu bebê; só que não conseguiu encontrar ninguém. Então, decidiu fazer sozinha, com uma câmera simples e muito, mas muito amor no coração. Num tom bem humorado, Paloma diz que o resultado foi um desastre e que, nesse momento, percebeu que precisaria estudar para chegar nos resultados que sonhava.

Em 2011 ingressou na Faculdade de Fotografia- Univale e, paralelo à graduação, realizou cursos de especialização em fotografia newborn com professoras dos Estados Unidos, Canadá e Austrália.
Unindo a paixão com o estudo e aprofundamento nas técnicas, Paloma acabou tendo um crescimento rápido. Na sua cidade, por exemplo, não havia fotógrafos newborn; e no restante do Brasil, ainda era bastante raro.

Além de começar a trabalhar como fotógrafa, passou também a dar cursos dessa área pois despertou interesse nas pessoas e a demanda aumentou.

Em 2013, nossa flor abriu seu primeiro estúdio e começou a ministrar cursos. Primeiro, internamente, a faculdade a convidou para dar uma palestra e falar sobre esses ensaios com os bebês recém-nascidos mas sem remuneração, só contando sua própria jornada. Quando Paloma postou em suas redes sociais sobre a palestra, pessoas de outras cidades começaram a procura-la para iniciar os cursos que, posteriormente, seriam um grande sucesso, lotando as turmas em questão de dias.

Com humildade, talento, vocação e muito profissionalismo, Paloma viajou o Brasil, Estados Unidos e Europa levando conhecimento para apaixonados e profissionais da Fotografia Newborn, conhecimento esse que nos contagia só de ouvir o carinho e doçura que ela deixa transbordar enquanto ensina e fotografa.

Paloma acredita na fábrica de memórias e na eternização delas, através de fotos que contam histórias, reforçam laços e se tornam parte do livro das nossas vidas.

Quando nasce um bebê, nasce também uma mãe, um pai, uma família. E essa é a maior riqueza para nossa flor-fotógrafa, que é filha, irmã, amiga, esposa, mãe, profissional, um jardim inteiro. Paloma é filha de Fernando e Sônia, irmã de Fernando, Fernanda e Alexandre, esposa de Leandro, mãe de Luís Felipe e Luna, sobrinha de Paulo Roberto (in memoriam), tio que foi e é uma peça muito importante em sua trajetória.

Pra ela, a família é pista de decolagem e porto seguro para onde retornar. Ela teve isso, e se tornou isso para seus filhos e para todos os que passam por ela.

Paloma é humilde, simples, doce, forte, amável, leve, presente, cautelosa, generosa. É uma legítima flor que espalha graça mas também se adapta desde o solo úmido até o deserto. Paloma é família, é flor.

Ela fotografa famílias. Hoje, vive nos Estados Unidos e pelo telefone consegui uma entrevista inspiradora pra ti, pra nós. Vem comigo!



01. Quando foi que sentiu o despertar para trilhar o caminho da fotografia?

Quando estava grávida do meu primeiro filho, Luís Felipe.

02. Quem é a Paloma quando está por trás da lente?

Sou muito de estar em casa com meus filhos, sou muito básica, simples. Minha roupa preferida é calça de moletom e camiseta, adoro estar confortável pra poder sentar no chão e brincar com meus filhos, meu cachorro, estar em família não importa o lugar.Seja em casa, numa viagem maravilhosa, o importante é estarmos todos juntos.

03. O que diria pra ti mesma daqui 10 anos?

Acho que eu diria que valeu a pena. E, se eu parar pra pensar o que diria pra Paloma de 10 anos atrás, seria o mesmo para daqui 10 anos. Que todos os passos que foram dados, todo planejamento, tudo valeu. Não me arrependo de nada, faria tudo de novo.

04. O que é a fotografia pra ti? Como te sente sendo a responsável por eternizar memórias?

Bom, a fotografia pra mim é algo muito especial. Sempre digo que, quando tô trabalhando, não me sinto trabalhando. Eu não canso, posso ficar horas e horas com um bebê, se eu estiver em curso e ele for das 09h ás 17h, depois vai ter um jantar e eu vou continuar falando de fotografia com os alunos porque eu adoro meu trabalho.

A fotografia é um combustível diário. Me sinto muito feliz e realizada porque trabalho com algo que eu amo, me destaquei por isso e ainda ganho dinheiro. Poder proporcionar pra minha família conforto, estudo, os momentos. Então, não tem como não amar essa profissão.

E sobre me sentir responsável por eternizar memórias, vejo por mim mesma o quanto a fotografia, em diversos momentos, tem importância na construção de quem a gente é. Então quando olho fotos da minha infância, da minha família, dos meus filhos quando eram menores e aquela saudade que dá de “meu Deus, como o tempo passou!”, então com as fotos a gente consegue voltar naquele tempo. Então eu sei o quanto ela é importante na vida das pessoas, sei a responsabilidade absurda que tenho quando entrego um trabalho pra um cliente porque sei que aquilo vai ser visto por anos e também sei o quanto aquele instante que a gente congela vai ser apreciado por muito tempo.

05. Que marca tu quer deixar nas pessoas que te procuram para registrar os momentos mais únicos de suas vidas?

É de quando a pessoa olhar pra foto, ela lembrar daqueles detalhes, do filho; mas também da experiência vivida naquele momento, de tudo o que foi proporcionado pra ela. A atenção, o carinho, o som, o olfato, o paladar, tudo o que ela viveu naquele momento. Então, pra mim, é muito importante a experiência que o cliente tem. Porque ao olhar pras fotos, vai lembrar do bebê mas também quero que recorde daquele momento, daquele dia, de mim, da importância daquele registro.


Queridas e queridos leitores!

Aqui, quem te escreve é Victória: Escritora, idealizadora do projeto Caçadora de Histórias e colunista da Revista TRAMA.

Começamos esse ano cheio de páginas em branco escrevendo a nossa e trazendo a coluna de maneira ainda especial, porém renovada. Aqui conecto minhas palavras com a arte que a revista respira e traremos, quinzenalmente, histórias de artistas de todos os vieses como literatura, música, cinema,
dança e muitos outros, ajudando a reforçar e relembrar o quanto somos bordados e perfumados por toda essa pluralidade.

Com carinho, esperança e muita fé,
Victória Vieira


Victória Vieira é escritora e idealizadora do projeto Caçadora de Histórias. Caçando e ouvindo histórias, vou escrevendo a tua com minhas palavras e te ajudando a ter um novo olhar sobre ela. Siga o projeto no Instagram.


3 Comentários

  1. Quando eu concedi essa entrevista, pensei que contariam a história de forma resumida, já que era tão longa. Eu só não imaginava que ler a minha história contada pela sua perspectiva me emocionaria tanto, estou em lágrimas, pq vc conseguiu inclusive transformar alguns detalhes tristes da minha vida em leveza, principalmente a fase de Charqueadas que foi tão difícil. Você tem um dom lindo demais, parabéns Victória! E muito obrigada por isso, pois a matéria saiu justamente em um momento super especial.

  2. Fabiolla Soares

    Incrível a história de vida da Paloma, já tive a oportunidade de ver o quão maravilhosa ela é. Uma honra pra mim. Sua simplicidade, sua doçura, sua magnitude como profissional, seu amor pela família nos leva a entender todo esse sucesso… Parabéns a página por essa história de vida tão linda e a Paloma pela generosidade em compartilhar conosco e nos inspirar tanto… Amor, Faby Soares (fotógrafa Newborn iniciante no Brasil)

  3. História linda! Tenho uma admiração enorme pela Paloma desde a primeira imagem de newborn que vi e me tremi inteira na nossa primeira foto juntas. Mostrei o trabalho dela pro meu marido, Altair que tem uma editora de livros, e a Paloma trabalhou rápido para que seu sonho virasse realidade e com certeza, foi o meu tambem, tenho uma dedicatória especial escrita por ela no primeiro livro que tirei da caixa. Te desejo muito mais alcances de sucesso querida amiga! Que Deus sempre proteja você, sua familia e seus projetos!

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