Vivíamos tempos da corrida dos ratos. A gincana diária de quem faz mais rápido, quem vence o relógio, uma grande e esquisita competição humana. Então, em Fevereiro/Março de 2020, nos deparamos com um vírus letal e uma pandemia mundial.
Precisamos ficar em casa por alguns dias; outros, precisaram ficar por meses. O tempo em casa devolveu às pessoas uma visão límpida e nítida do que é a vida, genuinamente. Que o café da manhã com a fumaça quentinha saindo da xícara é uma poesia silenciosa, na quietude do primeiro horário do dia. Que o cabelo bagunçado e os olhinhos de sono dos nossos filhos são a melhor vista e que nada no mundo compra esses chamegos.
A pandemia nos trouxe pro presente, que é o tempo no qual deveríamos estar sempre.
O homem é um ser futuro porque vive com os olhos cravados lá. Isso nos deixa invisíveis pro agora.
Quem olha o amanhã, não tem os pés no hoje.
Mas, com as lições pandêmicas, um dia seremos visíveis. Um dia, estaremos de fato agradecendo e celebrando o maravilhoso “agora”, porque ele é tudo o que a gente tem. Por isso se chama “presente”.
O ontem já se dissolveu e o amanhã é uma ilusão.
Independentemente da crença e religiosidade, o fato é que estamos nessa vida pra ajudar, aprender e evoluir. Dos mínimos movimentos aos grandiosos. O que importa é se pôr no sol, ir pro campo, lutar no melhor dos sentidos. No teu próprio ritmo, no teu próprio tempo, sem campeãs ou campeões, apenas humanos que caminham sobre uma terra preciosa com águas cristalinas, florestas verdejantes e mares infinitos.
O homem é um ser futuro? Não. O homem é um ser fluido, orgânico, impermanente. Por isso é ser humano.
“Ser”, verbo no infinitivo, porque nada pode nos limitar.
Heráclito já dizia que “nada é permanente se não a mudança”, então, mudemos! Vivamos no agora. Ele é nossa única certeza.
Victória Vieira é escritora e idealizadora do projeto Caçadora de Histórias. Caçando e ouvindo histórias, vou escrevendo a tua com minhas palavras e te ajudando a ter um novo olhar sobre ela. Siga o projeto no Instagram.