EQUINÓCIO

Menos famosos que os tão celebrados solstícios, os equinócios são os únicos dois dias do ano em que o dia e a noite têm exatamente a mesma duração; o eixo de rotação da Terra fica paralelo ao do Sol, o que faz com que os dois hemisférios do planeta sejam iluminados igualmente. Essa supravalorização dos equinócios pode ser abordada enquanto metáfora para se discutir muita coisa: a política, as relações sociais, a estrutura capitalista… mas, como sou eu, e como o dia é hoje, quero falar sobre bissexualidades, mesmo.

O dia 23 de setembro marca, anualmente, o Equinócio de Primavera para os territórios do Sul – e apesar de esse não ser o motivo da escolha da data (Freud explica), há de se convir que é um tanto poético que a Celebração Bissexual caia bem neste dia, em que celebramos o florescer pós inverno; em que noite e dia, Norte e Sul, ficam em pé de igualdade, em todos os 180 graus de latitude do planeta. Celebramos a nossa fluidez, a nossa completude, a nossa compreensão da diversidade e da multiplicidade justo no dia em que a natureza provê luz e calor em equilíbrio a todos os territórios e pessoas sem distinção.

A noção real do que é a bissexualidade dialoga muito com isso. Ainda que leigos argumentem (até hoje!), com base numa etimologia rasa, que a bissexualidade é binária, transfóbica, excludente de identidades fluidas ou não binárias de gênero… a verdade é que, assim como a luz solar, que toca os 180 graus de latitude por exatas doze horas no equinócio, a bissexualidade também toca todos os graus do espectro de gênero, se dando ao direito de primaverar, veranizar, outonar e invernar a cada vivência. Ora; o Sol não precisa (nem deve) escolher iluminar apenas Norte, ou apenas Sul, ou apenas alguns graus entre os polos. Bem. Nós também não.

A noção real do que é a bissexualidade também dialoga muito com essas mudanças de estações, que variam de acordo com o deslocamento natural do corpo celeste nos eixos de movimento. A Terra, em sua rotação, não está indecisa nem passando por uma fase. Bem. Nós também não.

Bissexualidade é luta, é enfrentamento, é transgressão, é rompimento com tudo o que é compulsório na nossa vivência social. Ser bissexual é ser capaz de negar as imposições sociais limitantes no que diz respeito a quem e como devemos amar, considerando os constructos sociais de gênero e sexualidade em sua qualidade de construção – e, consequentemente, em sua possibilidade de desconstrução e mudança; não enquanto atributo fixo restritivo das identidades.

Cito, aqui, o recém publicado Manifesto Bissexual Brasileiro: “E por isso lutamos. Contra a vergonha que nos impõem, contra o ódio que nos separa, contra o apagamento que nos fere. Lutamos por orgulho, respeito e visibilidade. Lutamos pelas nossas vidas. E continuaremos vencendo, pois a luta bissexual, assim como nós, não tem fronteiras nem conhece limites.”


Carol Cadinelli é jornalista, apaixonada por palavras. Escreve, edita, revisa, traduz e, vez ou outra, fotografa. Atualmente, é editora na Trama.


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