A Dama Mourisca

A dama mourisca, tal qual Sefora, a sacerdotisa
Equilibra o seu temor 
Sobre o brilho daquele áureo candelabro.
Delicadas elipses,
Teias tecidas na conjuntura da infinitude
Naquele céu noturno do corpo feito lua minguante.
Sem corda para segurar, sonha-se o sonho.
Dos espaços sem limites, o olhar pende...
Para onde?
Duplo éter daquela viagem.
Naquele momento ela finge lançar-se desavisadamente
Ao som de uma música que só ela ouve.
Circunscrita por um cortejo ígneo
Que há tantas jornadas a acompanha, 
Ela é a própria razão de ser da luz.
Guardiã e súdita.
Confidente e mensageira...
Ela solta seu corpo e tudo gira.
A vida, ideias, imagens, paisagens, histórias, pensamentos, premonições e distúrbios.
Em que se pendura esse candelabro de samsara? 
Quando vai voltar a rodar?
A (equilibrista) moura mantém seu delicado equilíbrio.
Prazerosamente, ébria no seu próprio ser.
Obediente aos ditames
Daquilo que julga fazer ela parte
À maneira do fio que enlaça as contas do colar, 
Confunde-se inevitavelmente ao seu desenho.
...Numa noite qualquer de estrelas presentes, ela retornará 
Para nos alertar sobre o próximo giro da roda. 
Tomará fôlego, e sorrirá.
Um sorriso calmo e acolhedor. Compreensivo...
E, embalados por esse semblante, desta vez, nós sonharemos.
Enquanto ela, dançará...

Marina Alexiou é mestre em Filosofia pela PUC/SP e estudiosa das Artes. Escritora de prosas poéticas desde 2009, participou do livro “Coimbra em Palavras”,  lançado em Portugal em 2018. Gosta de colecionar belas imagens, pois elas a levam para o seu mundo simbólico inspirando a sua escrita.


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