TAYLOR SWIFT: FOLKLORE, ANALOGIAS E MULHERES FATAIS

O oitavo álbum de estúdio da cantora americana é repleto de nuances e retratos cinematográficos que entregam a habilidade inigualável de Taylor em composições.

É a terceira vez que Taylor escapa do pop convencional. Os álbuns Red (2012) e 1989 (2014) são exemplos explícitos da variedade de gêneros explorados. Mas seja dentro do pop, alternativo ou folk, Taylor se destaca pela narrativa indireta e lírica.

Folklore (2020) é um álbum intimista. Embora seja ambientado em um triângulo amoroso, sendo contado da perspectiva das três pessoas envolvidas e um cenário preto e branco. A escolha de não usar cores, dessa vez, deu à Taylor uma gama infinita de cenários que podem ser explorados de diversas formas, tanto por ela, quanto por quem ouve. Quando vemos algo em preto e branco, não imaginamos só as cores que poderiam estar ali, mas imaginamos também o que as pessoas por dentro de tudo isso estão pensando sobre as cores inexistentes.

Nos lyric vídeos das músicas em seu canal no Youtube, as imagens ultrapassam as sensações e transformam os ambientes nas letras. Todos os vídeos contém cenas de mares violentos, cachoeiras, florestas e luzes.

A música 𝐭𝐡𝐞 𝟏, é a primeira do álbum. Seu vídeo acompanha a imagem de águas cristalinas, refletidas na luz do sol e levemente escurecidas pela paisagem ao redor. A melodia é suave, com elementos folk e pop alternativo. O uso de elementos como palmas, cordas de violão, teclas de piano, dão à música uma atmosfera segura.

If my wishes came true, it would’ve been you. / You know the greatest loves of all time are over now.

A segunda música do álbum é cardigan. É a terceira música da narrativa do triângulo amoroso citado por Taylor. O mesmo é composto por Betty, Inez e James. Em cardigan, é Betty quem narra os acontecimentos em relação à seu namoro com James, e por fim, acaba o aceitando de volta. No clipe, Taylor adiciona uma certa magia à letra, as imagens variam dela tocando piano em um quarto subterrâneo, em uma floresta, uma avalanche e por fim, o quarto novamente. Esse leva e traz de elementos é perfeito para descrever a intenção de Taylor ao adquirir a persona de Betty na música.

When you are young they assume you know nothing. / I knew you’d come back to me.

Essas duas frases acontecem exatamente nos momentos cruciais do clipe, respectivamente. A primeira e última vez que Taylor cita essas palavras, ela está no meio de águas violentas, enquanto tenta se segurar no piano, a segunda é ambientada no momento em que Taylor reaparece no quarto, depois do quase afogamento, e veste seu cardigã. Quais as ligações? Quando se é jovem, as pessoas realmente assumem que você não sabe nada, no contexto da música, o 𝑛𝑎𝑑𝑎, quer dizer sobre relacionamentos e sobre si mesmo. Mas Betty sabia de tudo, e sabia exatamente como a história entre ela e James terminaria, tanto, que “eu sabia que você iria voltar para mim”, quer dizer que ela nunca deixou de saber quais seriam os passos de James.

𝒕𝒉𝒆 𝒍𝒂𝒔𝒕 𝒈𝒓𝒆𝒂𝒕 𝒂𝒎𝒆𝒓𝒊𝒄𝒂𝒏 𝒅𝒚𝒏𝒂𝒔𝒕𝒚, é sobre a mansão Rhode Island, e é um comparativo entre a antiga dona da mansão, Rebekah West Harkness e a atual dona, a própria Taylor. O início da narrativa passa pela história de Rebekah e como a imagem dela era deturpada entre os vizinhos, já que ela era uma grande amante de festas de elite. Taylor segue com “ela teve um tempo malévolo arruinando tudo”, em relação à casa e a sua própria imagem na mídia. Existe uma ligação entre as duas, principalmente pelo fato de suposições e histórias distorcidas que viralizaram, tanto em relação à Taylor quanto em relação à Rebekah. A narração segue com Taylor dizendo que a Holiday House (como era nomeada por Rebekah) ficou livre de mulheres loucas, seus maridos e péssimos hábitos por um tempo, até ser comprada por ela. Então Taylor faz um comparativo às duas e se nomeia “a mulher mais barulhenta que a cidade já viu” se referindo ao fato de que ela não é tão normal quanto todos realmente pensam, e ainda adiciona “quem sabe o que poderia ter acontecido se eu não tivesse aparecido” e “eu tive um tempo malévolo arruinando tudo”, em relação à todos os acontecimentos em sua vida pessoal e profissional, já que a Rhode Island é uma mansão usada por Taylor para as festas de 4 de Julho.

Taylor utiliza a música para desligar as pessoas do estereótipo de “mulher louca” só porque ela é livre e independente.

No lyric vídeo, a imagem que temos é a de uma praia, provavelmente perto do nascer ou pôr do sol, enquanto a câmera se move minimamente para os lados, nos dando uma noção de como é a vista da mansão, de quem está dentro dela.

𝒆𝒙𝒊𝒍𝒆 é a quarta música do álbum, em parceria com Justin Vernon (Bon Iver) que também produziu a música. A letra retrata duas pessoas que se esbarraram novamente após a separação. O vídeo no Youtube é representado por uma floresta escura, com uma pessoa caminhando por ela. A atmosfera da música é dolorosa e suas nuances encontram o preto e branco da imagem, principalmente quando a música é cantada por Taylor, que traz uma intensidade maior à música.

I think I’ve seen this film before, and I didn’t like the ending.

Essa frase, em especial, nos remete muito à todo a estética visual do álbum. Nessa parte da música, o refrão, é possível ouvir a voz de Justin e Taylor, assumindo os papéis citados anteriormente. O “eu acho que já vi esse filme antes” quer dizer que os dois já passaram por um término, e estão revivendo isso de novo, na intenção de tentar melhorar ou consertar as coisas. Tanto que, ao longo da música é possível ver um indício de que os dois tentaram mas acabaram empurrando demais sobre os ombros um do outro, e no fim, desistiram.

A quinta música, 𝒎𝒚 𝒕𝒆𝒂𝒓𝒔 𝒓𝒊𝒄𝒐𝒄𝒉𝒆𝒕, segundo Taylor é sobre uma pessoa que está no funeral de seu antigo objeto de obsessão. Nos aspectos mais profundos da música, ela é um desabafo sobre a vida pessoal de Taylor e também uma metáfora sobre a traição de Scott Borchetta (fundador da Big Machine Records, ex gravadora de Taylor). Borchetta tomou os direitos de músicas antigas da Taylor que mais deram lucro à gravadora, na época em que ela assinou um contrato com a Republic Records. A letra utiliza elementos fotográficos para nos inserir no real sentimento de Taylor. Quando ela canta “se eu me queimar, você vai ser feito de cinzas também” e “e mesmo nos meus piores dias, eu mereci, todo o inferno que você me fez passar?”, em relação à como ela se sentiu quando a história sobre suas músicas veio à tona, já que uma grande negatividade e falsas acusações caíram sobre ela, principalmente por parte de Scott e Scooter Braun. Quando ela se refere à queimar, ela quer dizer que está se machucando sozinha, mas que em algum momento, essa dor vai se alastrar e consumir todos que estão à sua volta.

And If I’m dead to you, why are you at the wake? / You had to kill me, but it kills you just the same.

Esse trecho nos dá uma completa noção do ponto de vista de Taylor na história. “Por que você está no velório?”, é uma metáfora à Scott fazer parecer que ela está completamente apagada de qualquer imagem relacionada à Big Machine e ele, mas continua insistindo em tentar desmoroná-la. Se você não se importa, por que ainda faz questão de  me ver quebrar?

A segunda frase descreve perfeitamente o comportamento persuasivo de Scott. “Você precisou me matar, mas isso te mata do mesmo jeito” quer dizer que ele colocou a mão no fogo por algo que não dizia respeito à ele, matando assim, a imagem antiga de Taylor, que costumava ser submissa em relação à sua carreira na época. Mas mesmo que ele tenha arruinado tudo para ela, acabou se arruinando também. Uma comparação com Look What You Made Me Do (2017), é que Taylor diz “a antiga Taylor não pode atender ao telefone agora porque ela está morta”, provavelmente nesse trecho Taylor se referia à constantes ligações que recebia de Scott e Scooter.

O lyric vídeo é composto pela imagem de um mar, à noite, e não existem cores, é apenas a escuridão e a calmaria da água. É como um espelho para os sentimentos de Taylor, mesmo que tudo seja sem vida, ela ainda está segura.

𝒎𝒊𝒓𝒓𝒐𝒓𝒃𝒂𝒍𝒍, é uma música sobre Taylor e como ela acaba refletindo a personalidade de todos à sua volta. Como um espelho refletido em uma forte luz, iluminando todos os cantos existentes em um espaço, esse é o globo de discoteca.

And when I break, it’s in a million pieces.

Taylor reflete à sua personalidade e o quão frágil ela é em alguns aspectos, a metáfora de “quebrar em milhões de pecados” significa que, assim como um vidro se espatifa no chão em infinitos cacos, ela também se parte em muitos pedaços que às vezes são extremamente difíceis de serem colocados de volta. A música segue com Taylor dizendo “eu posso mudar tudo de mim para me encaixar” em relação à ela costumar se moldar nas críticas e suposições de outras pessoas para continuar sendo admirada, como um espelho que reflete exatamente o que as pessoas querem ver, e não o que elas realmente são.

Taylor também faz uma analogia ao circo, comparando a sua vida com todos os elementos dispostos em um. Como o “eles cancelaram o circo, queimaram a discoteca” se referindo à como a mídia consegue transformar a sua vida pessoal em um entretenimento sem fim, onde eles moldam sua imagem da maneira que entendem e quem o assiste aplaude, aceitando a imagem distorcida que é oferecida. “Eu ainda estou na corda bamba, tentando de tudo para que você ria de mim”, como uma tentativa de mostrar que essa personalidade é midiática e feita para que as pessoas ainda a admirem, uma forma de mostrar que ela pode fazer de tudo para receber a atenção das pessoas. “Eu ainda estou no trapézio, tentando de tudo para que você continue olhando para mim”, essa parte, se refere à sua vida como artista, estar no trapézio é o maior centro de atenção em um circo, onde todos os olhares, quietos e ansiosos, estão presos em um ponto fixo, esperando (ou não) um pequeno deslize.

E é como a vida de Taylor é refletida. Nessa última frase, ela destaca sua própria personalidade, e faz uma referência também à uma de suas falas em seu documentário Miss Americana (2020), onde ela diz que as mulheres na indústria precisam se desdobrar e se reinventar todos os anos, a cada novo projeto, enquanto homens podem continuar na mesma linha de pensamento e nicho artístico, e ainda serão admirados. Ela também diz que chegar aos 30 sendo artista e mulher, é um grande desafio, já que essa é a idade em que muitas perdem a força diante dos olhos do público e da mídia, e de repente tudo que sobra é apenas a vida pessoal em manchetes fantasiosas. O que Taylor quer dizer em mirrorball é que ela ainda vai continuar sendo o centro das atenções, enquanto esse palco estiver aberto para ela

𝒔𝒆𝒗𝒆𝒏, é sobre a infância de Taylor e possivelmente um amigo que ela costumava ter nessa idade. Taylor narra os problemas que aconteciam na vida dessa pessoa, enquanto ela estava sempre ao seu lado, disposta a ajudar.

Your dad is always mad and that must be why / And then you won’t have to cry, or hide in the closet.

O “se esconder no armário” é uma referência à, provavelmente, o fato de que essa pessoa estava passando pela descoberta da sexualidade. “Eu acho que você deveria morar comigo” e “assim como uma canção folk, nosso amor será passado adiante”, é demonstração de afeto de Taylor na história, ela também acrescenta “e mesmo que eu não consiga lembrar o seu rosto, eu ainda tenho amor por você” e como essa música é quase como uma lembrança, Taylor se refere ao fato de que não lembra muita coisa sobre essa época de sua vida, mas ainda sim, o amor está vivo e vai durar para sempre.

Essa música também pode ser a Taylor do Folklore tendo uma conversa com a Taylor de sete anos de idade. Onde ela assume os riscos, relembra as complicações e relata um acolhimento que ela mesma não teve na época, consigo mesma, como uma forma de dizer que ela ainda está ali, para todas as suas versões e personalidades.

O lyric vídeo contém a imagem de uma floresta, dessa vez, o sol bate forte e as folhas voam, a calmaria de uma tarde de verão, como a vida de uma criança.

A música 𝒂𝒖𝒈𝒖𝒔𝒕, é a visão de Inez sobre a relação com James. Voltando ao triângulo amoroso citado por Taylor. Nessa música, a persona de Taylor é voltada para Inez, a garota que conheceu e se apaixonou por James, em um verão norte americano, em agosto.

August slipped away in a moment in time, cause it was never mine. / You were never mine.

Nessa música, a relação de Inez e James é sobre o ponto de vista da garota e como a história deles era na época do colegial. A alusão a um amor de verão eterno e o fato de que ele nunca foi realmente dela, dão à música um ar relativamente melancólico. Ela retrata o quanto o amava e abdicou de muitas pessoas e coisas só para ter ele, mesmo sabendo que no final, ela não o tinha. O vídeo no Youtube conta com uma imagem desfocada de um mar, as cores pastéis e plantas em frente à câmera, tornando a atmosfera um verdadeiro amor de verão que escapou e se perdeu na memória.

𝒕𝒉𝒊𝒔 𝒊𝒔 𝒎𝒆 𝒕𝒓𝒚𝒊𝒏𝒈, é a tentativa de Taylor de reparar uma relação cheia de problemas. Com produção de Jack Antonoff, na música, Taylor lida com diversos fatores pessoais que desencadeiam arrependimentos e acontecimentos inesperados.

I didn’t know if you’d care if I came back. I had a lot of regrets about it.

Em 2016, durante o tempo em que Taylor se distanciou das redes sociais e permaneceu isolada durante um ano, ela relatou que tinha medo que as pessoas, e até os fãs, não a quisessem de volta, já que uma avalanche de sentimentos foram colocados à flor da pele. “Eles me disseram que todas as minhas gaiolas são mentais” e “minhas palavras atiram para matar quando estou brava”, se referindo à ouvir de muitas pessoas que estava se auto-sabotando e se preparando para o fracasso. Suas palavras machucam quando ela está irritada, porque tudo aquilo se tornou demais para ela, e o que restou foram as decepções e coisas jogadas no ventilador.

“É difícil estar em uma festa quando me sinto como uma ferida aberta, é difícil estar em qualquer lugar quando tudo que eu quero é você”. Nesse trecho, a festa, em questão, é uma referência a eventos onde Taylor precisava comparecer mesmo estando quebrada, porém ela não deixava transparecer.

O “tudo que eu quero é você” é sobre seu antigo eu, antes de tudo simplesmente desmoronar. Taylor nos remete ao sentimento de perda da identidade e está completamente perdida entre o certo e o errado, além de estar nas mãos da mídia, como um todo. “Eu só quero que saiba que isso sou eu tentando”, um desabafo sobre como ela está lidando com a situação, e que isso pode soar estranho, mas é a forma que ela encontrou de se refazer.

No lyric vídeo, um outdoor com o nome da música em um campo aberto. Uma comparação à como Taylor se sentiu sendo exposta e jogada dentro de uma narrativa distorcida, diante dos olhos de todo o mundo.

𝒊𝒍𝒍𝒊𝒄𝒊𝒕 𝒂𝒇𝒇𝒂𝒊𝒓𝒔, é a narrativa sobre um amor proibido e secreto. A narrativa de Taylor se estende desde encontros escondidos à uma intensidade em relação a como esse amor pode se tornar auto-destrutivo.

And that’s the thing about illicit affairs. / And clandestine meetings and long stares.

Taylor reúne os três pilares de uma relação às escondidas. O ilícito, o encontro confidencial e os olhares que duram mais do que míseros segundos. O que Taylor diz, na verdade, é que todos os amores proibidos são condensados com momentos que duram uma eternidade, porque você nunca sabe quanto tempo isso vai durar até que venha à tona. Em “Você me mostrou cores que sabe que eu não consigo ver com mais ninguém”, significa que, quem quer que seja, ensinou muitas coisas que ela jamais aprendeu antes, 𝑝𝑜𝑟𝑞𝑢𝑒 𝑎𝑚𝑜𝑟𝑒𝑠 𝑠𝑎̃𝑜 𝑑𝑒𝑠𝑐𝑜𝑏𝑒𝑟𝑡𝑎𝑠. “Você me ensinou uma linguagem secreta que sabe que eu não usarei com mais ninguém”, é uma metáfora ao fato de que Taylor e essa pessoa inventaram inúmeras formas de comunicação e entendimento, para que apenas elas soubessem o que estavam sentindo sem que precisassem falar, e 𝑎𝑚𝑜𝑟𝑒𝑠 𝑠𝑎̃𝑜 𝑐𝑜𝑚𝑢𝑛𝑖𝑐𝑎𝑐̧𝑜̃𝑒𝑠 𝑠𝑒𝑚 𝑝𝑎𝑙𝑎𝑣𝑟𝑎𝑠.

A imagem do lyric vídeo é como por um caminho de terra, envolto por árvores e cores neutras. O que faz uma conexão direta com “clandestine meetings”.

A música 𝒊𝒏𝒗𝒊𝒔𝒊𝒃𝒍𝒆 𝒔𝒕𝒓𝒊𝒏𝒈, é uma referência à lenda do fio vermelho, que liga duas almas gêmeas. No primeiro trecho da música, Taylor se refere a um dia comum, a cor verde e como ela não pretendia encontrar alguém. A cor verde, geralmente é associada a novos começos e é também a cor que remete à vida, sendo assim, quanto Taylor diz “Verde era a cor da grama”, ela quer evidenciar que isso era um recomeço.

And isn’t it just so pretty to think. All along there was some invisible string, tying you to me?

Uma referência ao fato de que nós nunca realmente sabemos quando encontramos nossa alma gêmea, porque, de alguma forma, ela nos encontra. A corda invisível é o elo de ligação etéreo, e ele jamais pode ser quebrado. “Tempo, místico tempo, me cortando e me curando”, Taylor se refere à como o tempo tende a quebrar e consertar, machucar e cuidar, fechar e abrir. E nesse caso, ele a deixou sofrer, apenas para que ela pudesse encontrar motivo para continuar depois. Porque o tempo nunca erra, se você dá a ele confiança, ele te devolve liberdade. 

“Uma corda que me puxou de todos os braços errados”, aqui, Taylor nos mostra como essa ligação a libertou de muitos erros do passado e relacionamentos conturbados. Estar nas mãos erradas, para ela, significava não saber exatamente o que era o amor. O lyric vídeo é uma imagem acima das nuvens, como uma linha invisível que separa o céu da terra, são duas distinções sendo ligadas por uma força maior.

𝒎𝒂𝒅 𝒘𝒐𝒎𝒂𝒏, é uma música, assim como the last great american dynasty, sobre a vida pessoal de Taylor. A letra é uma conexão entre o conceito de uma mulher “delirante” e a personalidade de Swift.

Every time you call me crazy, I get more crazy. What about that?

Taylor se refere à como as pessoas a enxergam e como ela mesma se vê diante das críticas. Ela retrata que, se alguém não gosta de como ela é ou está sendo apresentada em sua música, ela vai continuar com isso, porque é isso que ela é. “Ninguém gosta de uma mulher louca”, assim como citado anteriormente, Taylor se refere à ela mesma como uma pessoa de espírito livre e independente, então, é isso que ela quer dizer, as pessoas não gostam de mulheres loucas sendo o centro das atenções, muito menos sendo libertas das amarras de um estereótipo feminino submisso. Em Don’t Blame Me (2017) ela canta “Eles estão queimando todas as bruxas, mesmo que você não seja uma” e “As mulheres gostam de caçar bruxas também” em 𝑚𝑎𝑑 𝑤𝑜𝑚𝑎𝑛, uma forte ligação à misoginia escancarada na indústria musical e como as feministas se tornaram bruxas na dentro da sociedade. Mas, Swift aqui, nos traz isso como uma maneira de mostrar que mulheres são poderosas. Queimar bruxas é uma maneira de silenciá-las. O “mulheres gostam de caçar bruxas” é uma metáfora ao fato de que a indústria musical, no geral, é comandada por homens e acaba transformando mulheres em rivais.

A música tem uma forte ligação à my tears ricochet e as inúmeras artimanhas de Bortchetta e Braun para tentar desestabilizar Taylor. “É óbvio que me querer morta trouxe vocês dois juntos”, uma maneira de Taylor dizer que, a perseguição contra ela uniu os interesses dos dois em relação aos seus seis primeiros álbuns de estúdio na Big Machine. “Você tomou tudo de mim, estou assistindo você escalar sobre pessoas como eu”, se referindo à como Scott e Scooter pretendiam vender as músicas de Taylor para gerar lucro à antiga gravadora e como eles usaram a fama e facilidade de Taylor em sempre estar e permanecer no topo para conseguir algum triunfo. “Que pena ela ficar brava, você a fez assim”, logo após o incidente com Borchetta e Braun, Taylor relatou a história em suas redes sociais e recebeu apoio imediato de muitas pessoas, o “ficar brava” significa que ela cansou de ficar calada e se manter neutra em relação à sua própria carreira.

O lyric vídeo é uma imagem de um fogo ardente. E isso simboliza as bruxas e as mulheres loucas, porque as mulheres loucas queimam, as mulheres loucas renascem e as mulheres loucas são eternas.

𝒆𝒑𝒊𝒑𝒉𝒂𝒏𝒚, é uma música sobre querer viver em um sonho para despistar a realidade. Isso tem uma conexão com todos os acontecimentos trágicos na vida de Taylor e como, tanto no hiatus, quanto na atual situação em que o 𝑓𝑜𝑙𝑘𝑙𝑜𝑟𝑒 foi produzido, a realidade não parecia a melhor escolha.

With you I serve, with you I fall down. Watch breath in, watching you breathing out.

O álbum foi uma válvula de escape para tudo o que estava acontecendo no momento. A pandemia do Covid-19 isolou o mundo inteiro. Quando ela diz “Com você eu sirvo, com você eu caio” ela quer representar todas as pessoas que estão na linha de frente, assim como ela também quer dizer que está com todos eles. “Observo você inspirar e expirar”, é como se ela estivesse reproduzindo a imagem de alguém ressonando enquanto outra pessoa a assiste, em uma forma de cuidado. Taylor também cita inúmeros elementos que nos remetem às milhares de pessoas atingidas pela pandemia e pela doença.

“Apenas um vislumbre de alívio, para você ter noção do que acabou de ver” em relação aos médicos que estão à todo tempo, se desdobrando em mil e um para ajudar a todos. O lyric vídeo contém a imagem de um céu, com algumas nuvens acinzentadas, como uma metáfora sobre o tempo se fechando e acabando diante dos nossos olhos.

A música 𝒃𝒆𝒕𝒕𝒚, é a visão de James e fecha o ciclo do triângulo amoroso no álbum. Na música, Taylor adquire a persona de James.

The worst thing I ever did. Was what I did to you.

Nesse trecho, a visão sobre a traição se torna um arrependimento. Durante a música, é possível ver uma tentativa de reconciliação e inúmeros cenários construídos para narrar o quanto James quer Betty de volta. “Você vai me guiar até a jardim, no jardim, você acreditaria em mim se eu dissesse que foi uma coisa de verão?” Taylor, aqui, tenta explicar como um deslize não pode acabar com algo sólido. “Eu tenho apenas dezessete anos, eu não sei de nada”, um paralelo ao “Quando você é jovem as pessoas assumem que você não sabe nada” em 𝑐𝑎𝑟𝑑𝑖𝑔𝑎𝑛. James está receoso e perdido, enquanto Betty sabe exatamente quais os próximos passos do garoto. “Parado com o seu cardigã, beijando em meu carro de novo” e “Você sabe que eu sinto a sua falta” são os elos de ligação entre Betty e James. Quando em 𝑐𝑎𝑟𝑑𝑖𝑔𝑎𝑛, Taylor canta “E eu me senti como um cardigã velho” ela quer dizer que o amor não é mais o mesmo, está desgastado, e James relembra isso e o reutiliza para mostrar à ela que ainda não a esqueceu. No lyric vídeo, a imagem de grades e o início de uma floresta, dão indícios de um amor jovem que aconteceu no colegial.

Em 𝒑𝒆𝒂𝒄𝒆, Taylor nos insere em sua visão madura sobre romances. Ela descreve como um relacionamento pode ser quente e apaixonante, mas isso não o torna aberto para um sentimento de paz.

Give you my sunshine, give you my best. But the rain is always gonna come if you’re standing with me.

Taylor cria uma metáfora para se referir à inconstância em relação à sua personalidade e estabilidade emocional. Ela também canta “Te dei o silêncio que só vem quando duas pessoas se entendem”, se referindo à como duas pessoas podem simplesmente entender uma a outra sem a necessidade de palavras. “Eu morreria por você em segredo” essa frase, nos remete à como Taylor costuma manter algumas coisas guardadas e longe do público, quando ela diz que “morreria em segredo” ela demonstra certa devoção por essa pessoa, e mesmo que viver com ela seja perigoso e não traga paz, ela ainda enfrentaria céu e inferno para manter a pessoa por perto. No vídeo, uma imagem de um céu com nuvens cinzas e escuras escondendo os poucos vestígios do sol, isso faz conexão com a música e mostra o quanto a paz e o perigo estão se sobressaindo, assim como na imagem, as nuvens nos remetem ao perigo, cobrindo os últimos resquícios de claridade e paz existentes.

A última música da jornada melancólica do 𝑓𝑜𝑙𝑘𝑙𝑜𝑟𝑒, é 𝒉𝒐𝒂𝒙. Aqui, Taylor narra a luta interna entre querer continuar em um relacionamento, mesmo recebendo muitos impasses nesse processo.

Don’t want no other shade of blue but you.

A cor azul é muito comum nas composições de Taylor. Em Cruel Summer (2019) ela canta “a forma do seu corpo é azul” e “eu estou com você mesmo que isso me deixe azul” em Paper Rings (2019). O azul remete à melancolia e a tristeza. Quando Taylor diz “não quero nenhum outro tom de azul além de você” ela quer dizer que está acostumada com tudo que conhece e entende dessa pessoa, e que nenhuma outra vai ser tão avassaladora quanto essa. E o fato de que Taylor percebe que essa relação tem muitas falhas e admite mesmo assim que quer continuar com isso, transforma a música em uma metáfora sobre “se refazer para manter o outro”.

O lyric vídeo mostra a imagem de águas turbulentas se chocando contra as rochas, em um cenário azul. Isso remete ao fato de que Taylor é como a água, inconstante, e o relacionamento é como a rocha, que aguenta tudo e todas as mudanças.

Por fim, Taylor Swift é uma mulher fatal dentro da música. Seja em qualquer gênero que ela tente ingressar, o sucesso é certeiro, mas lembre-se, não se pode aprisionar uma mulher pensando que ela não vai conhecer a liberdade, a liberdade feminina é a dádiva da indústria musical.


Rebecca Mello é futura estudante de Jornalismo, apaixonada por escrever resenhas sobre música e cinema, com projetos de poesia e design em inglês no Instagram. Já escreveu para alguns sites e tem o seu próprio blog pessoal para publicação de portfólio, também sobre a quarta e a sétima arte.


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