Tenho observado as pessoas nas redes sociais e as redes nas pessoas, através da pequena
tela, há quem peça para me seguir. Hoje foi uma blogueira. Na sua pequena biografia de perfil,
vejo que fez curso de empreendedorismo e é adepta de selfies, para a alegria dos algoritmos,
imagino que queira me seguir para ganhar seguidores. Sucesso no mundo online é uma coisa fria,
sustentável só com apego.

Outro dia circulou um meme do Einstein sobre julgar peixes, porém ele nunca disse nada
daquilo. Sim, conteúdos internéticos podem ser falsos, mesmo assim, confiamos mais em memes
do que em artigos científicos. Pensei no cabelo do Einstein, avant-garde para aquela época. De lá
pra cá, avançamos?


O pão gourmet entregue pelo delivery pode até ser orgânico, mas a felicidade digital, artigo
de luxo, não, é intangível e efêmera. Tanta tecnologia em prol da felicidade enfermou a
modernidade. Somente a natureza sabe o que faz nesse planeta, e nós, esgotando “nossos” recursos
naturais, ainda não aprendemos que árvores não brotam de plástico e álcali-aluminossilicato.
Seguimos com curiosidade. Gatinhos fazendo gatices e crianças bebendo café. Fizeram um
vídeo do jovem amigo que, aprendendo a beber, vomitou todas. A diversão é um prato que se come
com gana e a distração é rir do esganado.


Me observo também, sei que somos cúmplices. Lembro de uma foto antiga do Mujica que
passou pelo meu feed, ele em um fusca com alguém da maior importância, exaltando sua sábia
simplicidade, honestidade e generosidade como saída. Estou de acordo se for no coletivo. Por trás
do post com tantas curtidas talvez não percebamos que (ainda somos os mesmos e) estamos
também sustentando a ideia de um herói fora da gente. A gente não precisa fazer nada; espera que
ele aparece — o salvador! Somos os últimos românticos quando na verdade não há nada romântico
em ser o último.


No stories, um vídeo de retrovisor mostra um belo escape: mata verde, asfalto e placa em
movimento. Atiçando a sair por aí. Ora, sair até saímos, mas ainda não conseguimos ir ao encontro
de nada.


Para não dizer que não falei das flores, também tenho feito descobertas no universo
paralelo. Fiz cursos, vi concertos, fiz novas amizades, lives. Produzi conteúdo, cantei, cozinhei.
Meu filtro, meu disfarce. Sei que melhoramos com a arte, e relaxamos com bobagens. Novos
formatos parecem fúteis de tão variáveis, estejamos atentos pois o virtual certamente entretém,
mas não pode persistir realmente. Estamos distraídos e venceremos sim, já sabia Leminski, nessa
ilusão de que assim poderemos evitar aquilo que nos persegue de muito, muito perto.



Genebra, 7 julho de 2022


Cris Oliveira nasceu em São Paulo e trabalha como bibliotecária em Genebra. Frequentou os cursos Escrevendo Poesia da Oxford University e Escrita criativa: contos curtos, da Universidade de Cambridge. Participou com poemas na I Mostra Virtual de Poesia Visual e no VI Festival de Poesia de Lisboa e tem narrativas curtas publicadas na Bibliotrónica Portuguesada Universidade de Lisboa.



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