Camp! ou O assassinato de Suzzy Garbo

É curioso que seja através de mim, que sou um homem chiquérrimo, que você fique sabendo do assassinato de Suzetty Capenga, a Camp1! 

Parto do princípio de que você não a conhecia já que o mero letramento nos afasta desse… universo. Não fossem as circunstâncias fascinantes que levaram à morte de Suzetty, que me atropelaram com um acaso semelhante ao desagradável ato de pisar no escarro de alguém na calçada, eu jamais a traria a público.  

Certamente sua vida não teria perdido nada em ter passado sem sentir o cheiro peculiar dela. A minha também. Teria seguido como um avô circunspecto, um intelectual de mau-humor constante, mas não um criminoso abjeto, como talvez serei interpretado depois dessas palavras. 

Mas fomos atados, eu e Suzzy, por uma teia de caos que só pode ter sido feita em macramê fosforescente por uma divindade de senso de humor questionável. Agora envolvemos você, que nos testemunha com repugnância e talvez até uma ereção, nessa rede de miudezas trágicas. 

O final da existência de Suzetty acabou se tornando determinante para a minha própria vida. Revelou algo da baixeza e da lascívia humana que mesmo a tanga de Fernando Gabeira era capaz de ocultar. Há algo de podre por baixo da superfície, é como o caldo de uma acne que ainda não estourou, que só emerge quando catucado. É com a tinta desse pus que atinge agora a quem me lê como um jato esbranquiçado e horrendo, um avesso do leite e do gozo, direto no olho, que conto essa história. 

Perdão pela podridão. 

Penso em Suzetty Capenga como se fosse um alfinete que é esquecido no chambre, ou uma abotoadura pontiaguda que pinica através do terno italiano. Sinto-a como uma folha de salsa que se agarra aos meus dentes, ou como o caroço da azeitona que descansa embaixo da língua por tanto tempo que passou a hora da refeição e já não podemos cuspi-lo. Há que engolir.  

Há nela algo que por sua incômoda presença, deixa de ser, pouco a pouco, tão insignificante quanto deveria ser, até ter a capacidade de arruinar a esguia postura, a beleza serena e o ereto caminhar do homem moderno.  
Suzzy era o pigarro do mundo.  

Eu, que sou culto, por isso muito sensível, acabei sendo a maior vítima dela. Sou a maior testemunha do flagrante mau gosto e da nauseabunda auto-humilhação de Suzetty Capenga, essa… figura que, no entanto, só me conheceu no dia de sua morte.  

Não pertencíamos ao mesmo universo e eu respeitei os limites, delicadamente virei meu rosto para não captar sua fétida presença, mas ela, com seu olhar perturbador de tanta autopiedade, com sua forma que em tudo passava dos limites… Ela invadiu a minha vida a ponto de que fosse inevitável o seu extermínio. 

Penso que ter matado Suzzy é como o ato de matar uma sereia que está atolada na praia, um golpe de misericórdia naquele ser que, deslocado de seu universo, perece a olhos vistos. As pupilas desfocadas em desespero pelo excesso de luz e a pele cinzenta torrando ao sol tornam a sereia uma coisa meio gosmenta, meio fedida, meio grelhada, que em nada lembra a mítica beleza das três tetas vultuosas e do canto aveludado que elas têm quando estão submersas no delírio, junto à tubulação de esgoto. 

Há algo de nobre em desintegrar um sonho. 

Fui o responsável por essa fascinante obra de arte que foi o assassinato de Suzzy Garbo, a morte de Suzetty Capenga, a obra-prima pela qual eu jamais serei conhecido, mas que, não restam dúvidas, é a melhor peça de arte que eu fiz na vida.  

I confess (Hitchcock, 1953). 

É aborrecido que eu não tenha podido terminar a adaptação dos textos de Susan Sontag, que seriam indubitavelmente mais proveitosas para o público que esta… performance, mas as urgências do presente me obrigaram a tomar este caminho estético que em nada contribui para a vida de pessoas decentes — e das indecentes também —, mas que, com algum esforço inicial, pode ser agradável de ouvir.  

A vida de Suzetty foi feita tão a rés do chão, tão de puro escárnio que me pergunto porquê esse tipo de preciosidade do chorume social, essa pérola de plástico, é capaz de se infiltrar em nossas mentes como um verme, como uma tênia, e nos obrigar uma e outra vez a enaltecer sua biografia, que nem bio tinha, se tomarmos uma dosezinha de Foucault antes de partir para revirar o trash

Mas é inevitável, sinto que quem me lê já está seduzido por essa maltrapilha, talvez até mais do que por mim, como, antevejo, eu mesmo estou. Essa… coisa, que apesar de tudo que me fez, é tão sedutora que eu não consigo odiá-la. 

Mas se você quer mergulhar na lama, como eu já também me permiti, então tenho apenas um aviso: não tome a morte de Suzetty como uma advertência, um sinal para não avançar. Isso seria muito aborrecido, muito demodè. Desfrute o caminho, mas não leve nenhum souvenir. 

Eu recupero aqui um retrato com algumas das piores coisas entre as tantas coisas ruins que aconteceram a Suzetty para você conhecer melhor essa personagem. Falo apenas de seus fracassos não só por minha parcialidade quando ao objeto, que é evidente, mas porque a vida dela também não teve sucessos.  

De antemão, te deixo seguro: já foi. Quando seu ódio por ela te fizer querer largar essas páginas, ou querer fisicamente devorá-las para garantir sua gástrica destruição, lembre-se: já foi, já não há Suzetty Capenga. 

Ou Suzzy Garbo, como ela se chamava apenas para me irritar. Como se nota, nela falta qualquer parentesco com a simpatia rechonchuda da boneca Susi; qualquer rastro de elegância como supõe seu autoproclamado sobrenome Garbo; e, acima de tudo, não há a mínima semelhança entre Suzzy e Greta. 

A diva certamente acharia tudo isso uma grosseria com seu nome, isso se ela já não fosse uma velha senil e se entendesse algo de português para ter o desprazer de esbarrar com este texto. 

Acabo este longo preâmbulo com a garantia de que, quando este escrito em papel higiênico for lido, a Capenga já estará morta e enterrada. Uma flor terá nascido em seu túmulo e terá sido comida pelos cachorros do cemitério. Ou pelos ratos, como é mais provável. Então, fique tranquilo: a distância segura para a observação já está estabelecida. Só não alimente os animais no nosso camping grotesco. 

Rear Window (Hitchcock, 1954). 

Suzzy Garbo não nasceu. Sua presença na terra nunca foi documentada até essas páginas, registro para a posterioridade pelo qual eu me culpo, mas estou inegavelmente contaminado por sua cafonice. 

Suzetty não era uma prostituta, pois não cobrava pelos serviços que ofertava nos becos, na verdade, pagava por eles. Ainda assim, tinha uma cafetina que era extremamente violenta com ela, extorquindo-lhe tudo, sua melhor amiga, a Lenda Linda. 

Suzetty não era artista, mas era uma grande especialista em encontrar inspiradores desenhos nas manchas dos vasos sanitários dos motéis que frequentava, quanto tinha a sorte de ser admitida em algum.  

Ela não lia, mas aprendeu a enxergar no escuro de tanto viver escondida. 

A estonteante beleza de Elke Maravilha era sua inspiração, mas tudo que ela conseguia ser era uma versão paralela, uma pirataria de Elke. O conceito estava ali: queria afastar-se do físico para ser conhecida pelo que era por dentro. 

Queria ser Maravilha, ser o ET autóctone, a heroína cósmica, mas em Suzzy o efeito da adição de mais e mais camadas era devastador. Ao contrário da diva, não inspirava mais que o riso. 

A chegada de Suzzy em qualquer ambiente tinha o mesmo efeito que a presença do palhaço fora do circo: um tanto assustadora, cercada de um riso nervoso, um suor, uma ânsia de vômito. O adjetivo que melhor a qualificava se tornou o seu sobrenome, não o de seu batismo voluntário, mas o que lhe deram nas poças das sarjetas: Capenga.  

Assumiu-o, tornou-se a Camp! 

Tudo nela era inconcluso, transeunte. As roupas estavam fora do prumo, a maquiagem abandonada pela metade. Os cabelos pendiam da cabeça como se fizessem um rapel amador, presos por um fio, prestes a cair. Dentes, não tinha.  

Suzzy ficou conhecida por Suzetty devido à rima que esse apelido sugere com a prática do felatio, pelo qual ela era muito conhecida, seu único talento. Assim como a música Geni e o Zepelim, que era sua trilha sonora desde o lançamento, sua boca era depósito de tudo que a sociedade ejetava. Suzzy era o buraco negro que sugava tudo de civilizado e em troca devolvia arrotos pútridos e silenciosos peidos. 

Ela consumia tudo do mundo e nada dava em troca, ou talvez desse tanto de si que não era capaz de produzir mais que a sua existência e as complicadas relações corporais que costurava em suas tranças pubianas.  

Todo seu tempo estava devotado para o amor, especialmente o que não tinha amor. Era preciso achar-se merecedor de muito pouco para acreditar que uma noite com a Camp! era melhor que a solidão do nada. 

Deixava-se penetrar, penetrava; estava disponível para qualquer interação corporal libidinosa ou mesmo para uma conversa. Ouvia os mais escabrosos erros de português, as mais indecentes histórias de violência, os comentários mais inteligentes sobre o “Cassino do Chacrinha”, mas não falava nada. Nunca. Era toda ouvidos.  

Suzetty pagava pelo amor, sustentava um mundo de minhocas com um dinheiro que ia tão fácil quanto chegava. Ninguém perguntava de onde ela tirava a grana, ninguém a roubava, pois era só pedir que ela dava. 

Suzzy era a mãe-parasita, a que vivia da atenção alheia. Mas não era só. O verme vive da vida alheia, mas isso é, no mínimo, um par de seres. É um casal de desprezo, é um terror compartilhado. Mas é social, sociável. 

Foi assim, parasitando, que ela atravessou minha vida. E foi por não pedir nada em troca que ela me tirou tudo. 

I married a woman (Kanter, 1958). 

Suzetty me passou suas doenças do esgoto social. 

Não sei em que esquina a vida dela esbarrou comigo, que não sou de frequentar esquinas. Já havia visto seu rosto em um ou outro canto, parcamente iluminada pelos faróis da avenida, servindo jovens e idosos com o mesmo vigor, um vigor que nenhum deles tinha. 

 Sua presença havia me chocado em alguma fotografia mal revelada em um jornal. Seu rosto disforme, grotesco como uma pintura de Munch, havia me provocado as mais terríveis emoções. Mostrei a imagem a alguns amigos e a alguns inimigos, a meus netos, sempre procurando saber se alguém reconheceria aquela careta, se a carranca tinha um substantivo próprio, mas nunca, nunca seu nome pode ser evocado à luz do dia. 

Eu tenho um carro potente, é uma máquina de acelerar. No geral, ultrapasso as marchas quando vejo alguém no estilo de Suzzy, mas fui, não sei como, descobrindo o freio ao cruzar os viadutos, ao atravessar os espaços onde a iluminação pública não alcança. 

Tinha uma irresistível vontade de vê-la, mas não sei para quê. Quem sabe perguntar-lhe quem era aquele… monstro que era ela mesma e quem sabe ouvir sair de seus lábios ressecados uma citação de Conrad: “O horror, o horror”. 

Meu carro é blindado, a porta é pesada, mas não é capaz de deter certas… contaminações. Eu achei que pudesse fugir de Suzzy depois de decifrá-la como a esfinge, de  abri-la como o esfincter. Mas me perdi nas sombras e sua presença me invadiu de uma só vez, inesperada e paralisante. 

Ela foi como uma fralda suja que os mendigos atiram contra seu rosto enquanto você sobe a escadaria do Grand Thèâtre. Uma fralda que não é descartável, obviamente. Um pano de bunda, um dos figurinos de Garbo, repleto de fluidos corporais. Camp é uma súbita pestilência que nunca mais poderá ser limpa.  

Suzetty Capenga me infectou com sua miríade de enfermidades. E, por honra, eu tinha que me vingar. 

The Magnificent Seven (Sturges, 1960). 

“Esteja às 17h neste endereço para ser assassinada”, dizia a nota que eu fiz chegar até Suzzy. Nem precisei de confirmação, pois sabia que ela não negava nenhum convite que lhe fizessem, fosse a um espancamento ou a uma romântica viagem a um descampado. Enquanto aguardava o horário marcado, adiantando o esplendoroso pôr do sol que se veria de meu apartamento, montei o cenário do extermínio. 
Investi metade de meu salário de professor aposentado de cinema em comprar uma quantidade suficiente de rosas brancas para cobrir o meu tapete persa. Imaginei o contraste da imundice de Suzetty com as flores, com o caríssimo entramado importado, e vibrei de emoção. 

Os refletores halógenos de filmagem foram bem posicionados para manter o crepúsculo brilhando em minha casa pelo tempo que fosse necessário para matá-la. O calor também aceleraria o dispêndio de sangue e o tingimento de meu apartamento de vermelho — se é que esta é a cor do fluxo de vida pós-infecção.  

Pensei no rosto dos policiais que me encontrariam ali, diante daquele corpo, mas cercados de tantas questões que se perguntariam se deveriam avançar um milímetro a mais, o medo terrível de serem penetrados pela peste à qual eu sucumbia, pelas infecções invisíveis que talvez já estivessem no ar. 

Um espelho completava o cenário, multiplicando as luzes do sol e dos refletores. Sua moldura tinha um rococó de uma breguice que agradaria Suzzy. Certamente ela ficaria olhando-se enquanto eu a esfaqueava e talvez esboçasse um sorriso pela beleza da cena que havia montado para violentamente esviscerá-la como a um porco. Para ela bastaria saber que teria sua Hora da Estrela. 

Havia, claro, o inconveniente de um homem chiquérrimo como eu ser responsabilizado pelo corpo de Capenga. Certamente mais pelo endereço da morte do que pelo crime, que era até um pouco digno, conhecendo-se o passado de tal figura. O atentado seria à minha imagem e não à dela, que não a tinha. 

Por primeira vez, Suzzy estaria no centro, elevada a um status que a aproximava da beleza, da arte, a colocava no olho do centro de todos os círculos sociais em que ela não era recebida. E a culpa seria minha. 

Mas não havia mais esse problema. Horas antes do início da execução de meu plano, eu já havia admitido, com as lágrimas silenciosas e as pernas bambas que preconizam o sofrimento na minha classe, eu já havia admitido minha paixão arrebatadora por Suzzy. Amor e sangue, como um coração de galinha. 

Harold and Maude (Ashby, 1971). 

Suzzy subiu ao meu apartamento disfarçada, como andava sempre que ia ao centro. Só ao entrar se sentiu mais à vontade para tirar a boina e os dentes postiços. Ficou com o olhar impressionado para minha decoração de avô bibliófilo e para o piso de taco que era em si um espelho. Encontrou a cama de flores que eu havia preparado para matá-la e fez sinal de que antes precisava de um banho, o que me surpreendeu: não era avessa a sujeira.  

Talvez tivesse apenas postergando seu final. 

Ela, porém, havia se preparado também. Havia roubado de uma loja um vestido de tigresa alaranjado berrante que era, ao mesmo tempo, a ruína e tudo que faltava para o cenário que eu havia armado para ela. Se maquiou com a coleção de itens de beleza que havia comprado com a metade de minhas economias que lhe coube: todos os produtos que não tinha tido oportunidade de experimentar por falta de um espelho em que pudesse admirar o contraste da delicada pintura com seu rosto enrugado.  

Poucas coisas são tão tristes como uma velha maquiada, talvez só fosse pior o que Suzzy justamente era: uma velha inexperiente que era incapaz de desenhar qualquer linha, qualquer círculo, sem que um lado do rosto se tornasse a antítese do outro.  

Suzetty gastou todas as caixas de pintura de uma vez só. O excesso de batom criava uma textura em seus lábios que lembrava a de uma criança que comeu a areia do parquinho.  

Chorar com rímel também não ajudava. 

Ao fim, porém, já era pôr do sol e não havia como evitar aquele momento de luz perfeita, o último brilho do dia, para o grande ato. Deitou-se nas flores e pensou se deveria levantar o vestido ou não para o golpe final. A decisão havia sido por passar o punhal pela barriga, abrindo o ventre. Era mais efetivo e mais chocante que um mero rasgão nos pulsos e também mais condizente com Suzzy. Uma boca no intestino para ela que sempre quis comer o mundo. 

Cortar a barriga também permitiria que eu escrevesse até o último momento, até depois da lâmina trêmula fazer sorrir a minha pança. Mesmo depois de tanto preparo, da decisão tantas vezes calculada, previamente acertada, o momento final é sempre uma decisão difícil de se tomar. Mas foi preciso. 

Decidi que continuaria com o vestido e que a faca abriria a pele da tigresa, a pele de Suzzy, e a minha ao mesmo tempo. Decidi que o sol faria a contagem regressiva por mim e chorei com a chegada da noite. Chorei, mas sorri. 

E tive coragem. 

Taxi Driver (Scorsese, 1976). 

Doeu. Não vou falar muito disso, não tenho tempo.  

Mas dói muito, não tentem isso em casa, crianças.  

Acabei amassando as flores, me mijando, manchando os papéis com meu sangue. Entendo quem corta os pulsos. No ventre, a sujeirada é tremenda.  

Mas também é possível encontrar algum prazer na dor infinita. E é possível sufocar o grito quando se tem a certeza de que, no fim, esse era o único caminho bonito para uma história que só poderia acabar mal, tendo em vista como começou. 

O sangue infectado contamina o piso de meu apartamento e eu não resisto a colocar uma rosa na minha boca, como Gardel teria feito, e de documentar isso, escrever aqui nessa brega conclusão. 
Achei que fecharia esse relato como Flaubert, gritando “Suzzy sou eu!”, admitindo meu lado B, minha banda podre, mas me parece pouco.  

Ela é mais que eu. Ela é mais que a minha persona noturna.  

A vejo sangrar no espelho e é tudo tão bonito, tão dolorido, tão breve. Eu morri, mas tenho impressão que o Garbo é eterno.  
Suzzy é meu espírito e finalmente é todo meu corpo. 

É tão lindo.  

É tão lindo ser feliz. 


NOTAS:

1 Camp!, é alegadamente a polêmica carta do diretor de cinema hispano-brasileiro Salazar Ordóñez, por alguns tomada como um documento de despedida, por outros como o esboço de um roteiro melodramático, e foi recuperada depois do suicídio do cineasta. Transcrita em máquina de escrever Olivetti pela jornalista A. Clara Clarice, que foi acusada pela família Ordóñez de ter adicionado frases onde a maioria do documento era ilegível, ganhou o título de O assassinato de Suzetty Capenga com sua íntegra publicada como um conjunto de três crônicas do jornal Folha do Brasil, entre 19 e 21 de maio de 1988, onde teve relativa repercussão, com acusatórias respostas de leitores indignados pelo tratamento folhetinesco dado ao texto, reclame em que comungavam tanto detratores de Ordóñez, que o consideravam um afetado, quanto por seus fãs, que achavam que tal texto ameaçava a genialidade da sua produção audiovisual. Camp! foi publicado posteriormente em versão unificada e estendida em um livro de obituários escritos pela jornalista, Tanta tarântula (1994), com o título Órdoñez/Garbo, título este tão fracassado em vendas como as antologias poéticas anteriores de sua autoria. Este texto só ganhou vida em cenários onde, alegadamente, Suzzy existiu. Foi xerocopiado livremente desde os anos 1990 e compartilhado por suas colegas. Esta versão é um ctrl+c ctrl+v do PDF Susi Garbo.docx que circulava apócrifo pelo grupo de WhatsApp de profissionais do sexo que atuam às margens da DF-290, no Céu Azul, fronteira do Distrito Federal com Goiás. Enviado a mim anonimamente, foi recuperado, analisado em um artigo científico e publicado em meu twitter. Aqui copilo a thread que eu batizei de O assassinato de Suzetty Garbo, mas que, talvez por “Camp!”ter sido a última palavra do primeiro tuíte, ficou conhecida assim ao viralizar com suas 16 curtidas em 29 de março de 2021. (Nota do autor).


Bruno Bucis é um escritor e jornalista da periferia de Brasília-DF. Escreve contos, poesias, romances e roteiros. Seu primeiro livro, o juvenil “Noites de Sol” foi lançado em 2017 pela Tagore Editora. No ano seguinte, sua novela inédita “Brigue como um morto” foi premiada com o 2º lugar em um edital pelo extinto Ministério da Cultura do Brasil. Textos curtos de sua autoria foram premiados também pelo Itaú Cultural, pela Universidade de Salamanca, pela Feira do Livro de Anápolis e pelo Cidade Infundada. Em 2021, lançou a podsérie de comédia “Saída de Emergência”, criada a quatro mãos com Ítalo Damasceno, financiada coletivamente pela plataforma Benfeitoria, e em 2022 foi selecionado pela Incubadora DAO-Portugal para uma residência de escrita. Atualmente trabalha em novos livros e roteiros para áudio.”



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