Algumas ideias — Everything Everywhere all at once  

Zeitgeist. Eu diria que o filme Everything Everywhere All at Once se comunica muito com o presente momento, devido a sua temática e as referências à cultura pop, mas não só isso. É claro que é difícil enquadrar uma obra numa classificação de tamanha importância, logo, meu trabalho neste texto será apontar os motivos que me fizeram chegar a tal conclusão. 

Esta categorização para o longa-metragem se dá por ele assumir diversas questões que eu diria representativas da atualidade, algo necessário para uma obra que é o espírito de uma época. A opção de tratar sobre os multiversos, assunto popular no momento atual, e a escolha dos gêneros (dramédia e ação), ambos levam muito público ao cinema atualmente, viabilizam a justificativa do filme ser um excelente representante desse período. 

Sua história fragmentada com as muitas possibilidades de ser devido aos multiversos é uma das principais potências da obra. As ramificações causadas pelos milhares de eventos que uma vida pode ter, conforme qualquer escolha ocorre, é a principal reflexão que o longa causa. Nada é perdido, tudo gera algo, ou alguém. Suas decisões na vida criaram pessoas diferentes a você, que ainda são você, só que em outro universo.  

A personagem interpretada por Michelle Yeoh (Evelyn Wang) é a pior versão de si e fracassou em todos os seus desejos. A protagonista ser desse jeito conota o teor cômico do filme, entretanto o drama entra ao ser ela quem está direcionada a salvar a humanidade. Uma missão um tanto quanto difícil para qualquer pessoa, ainda mais para quem é sua pior variante. 

O segundo longa-metragem dirigido por Daniel Kwan e Daniel Scheinert é também um sci-fi. Por isso, há uma explicação razoavelmente científica, com muita abertura para imaginação, a toda trama. Personagens de outro universo, o Alfa, conseguiram acessar as qualidades de seus pares. Essa habilidade faz com que Waymond Wang Alfa, representado por Ke Huy Quan, chegue até a protagonista. 

O incidente incitante da história é o encontro entre eles. Toda a trajetória do filme parte desse choque de universos. Logo, Evelyn descobre suas habilidades desenvolvidas por ela nos multiversos. Isso gera muito humor, mas também diversas reflexões sobre quem somos e onde chegamos por meio das nossas escolhas. Uma pergunta surge: onde estaríamos caso tomássemos outros caminhos? 

Essa questão para mim reflete muito o contemporâneo. Atualmente é muito fácil olhar para os seus colegas de escola, seus conhecidos, seus antigos amigos e até mesmo para você, de outros momentos, através de fotos, vídeos e das redes sociais. Criamos personificações da gente, e vemos essas imagens nossas e dos outros como configuração de quem fomos naquele momento. A obra representa isso com as diferentes encarnações que a Evelyn tem de si — A atriz de cinema mestre em Kung-Fu, a cozinheira, a mãos de salsicha, a pedra, a desenho animado, etc. 

Tudo se passa em um único dia. Há nisso uma referência ao clássico moderno-Ulysses, escrito por James Joyce. No livro, o protagonista vive todas as aventuras viáveis que uma pessoa medíocre pode usufruir em um dia da sua existência. No filme, Evelyn tem acesso às muitas possibilidades que diversas vidas habituais, e algumas delas nem tão comuns assim, permitem em um único dia, tudo ao mesmo tempo. 

Desta forma, o longa consegue fazer um panorama da modernidade atualmente, trazendo temas e referências que povoam o imaginário coletivo no presente. Sua inventividade e o ótimo trabalho da equipe em geral, com uma belíssima direção de arte, ótimo trabalho da maquiagem, figurinos interessantíssimos (vide a última sequência de cenas da parte 2 em que há uma clara ironia, ao mesmo tempo que tem uma excelente conexão entre a escolha do look usado por Evelyn, no casaco com os dizeres Punk). É por esses motivos que o filme obtém êxito ao falar sobre o contemporâneo e é uma obra que logra o status de Zeitgeist. 


Kelvin Machado é estudante universitário de Cinema e Audiovisual da UFPel. Publicou o texto Vermelho&Branco na coletânea portuguesa Laboratório de escrita para Teatro – Dramaturgias políticas contemporâneas, em 2022. Como ator, participou da peça Arte Fora do Sete, que circulou pelo estado do Rio Grande do Sul em 2019 através do FAC/RS. Atualmente está montando a peça Arrã, de Vinícius Calderoni, ao lado da atriz Alice Buchweitz. 


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