A primeira vez que me inscrevi para uma audição foi na escola, ensino fundamental. Era para interpretar uma bruxa, e o responsável pelas avaliações disse que não passei porque não olhava pro público. Anos depois, artista de bar, recebo o feedback de um estranho me dizendo que ficou o show inteiro sentindo falta do meu olhar, o olhar do vocalista, o que faz a gente se sentir especial…
Vendo um story que postei hoje, percebo que isso ainda é uma realidade. Tenho um poder, é certo, mas não me atrevo a usá-lo. Ainda fiz teatro mais tarde e interpretei num festival onde saímos vencedores, mas… Acho que ainda não consigo olhar pro público. E por quê?
Analisando o vídeo, notei que ainda me divirto mais na minha cabeça, interpretando para mim mesmo, olhando pros ares numa piada interna, eu e eu. Mas sei que temo olhar para o outro, engajar; temo olhar para o outro, me deixar devorar por esse anseio que passa um show inteiro tentando ser especial.
Concluí, uma vez, que sou como uma ponte: me deixo atravessar pelo outro para que ele prossiga; me deixo servir pelo outro para que ele satisfaça suas necessidades. Acho que me falta, então, barreira saudável que permita eu me entregar e depois voltar a mim, íntegro, com todas as fibras no lugar.
Estou ensaiando para uma audição no sábado (hoje é quinta), na qual terei de olhar para o “público” e dar a ele minha carne, meu olhar e toda a expressão que estudei tanto para imprimir no meu atuar… O que damos da gente, afinal, no teatro?
Diante do espelho ontem, treinando esses olhos medrosos e introspectivos demais que sempre se fecham quando canto, percebi o estado de gnose em que se entra ao se encaixar no personagem. É quase mágico; é ser mais lugar que pessoa, deixar-se fluir até se tornar arena de emoções e pensamentos e movimentos que nunca foram seus… Até agora.
Assim, talvez não seja questão de dar algo que acaba, mas sim algo que é processo e é abundante – e por isso mesmo posso dar. E quero. E gozo desse receber e dessa interação.
Ser ator é gozar com a resposta, é incitar admiração ou revolta, é exigir minha parte na troca: eu te dou meu eu em alquimia e te engulo com meu olhar.
Will Andrade é graduade em Psicologia e atualmente atende adolescentes e adultos de forma particular e em parceria com os projetos sociais “Pretamente” e “Sobreviver”, voltados para atendimento social da população negra e LGBTQIA+. Também atua como vocalista e violonista desde 2018 nos projetos Terapia de Bar (covers nacionais e internacionais) e Os Passantes (covers e autorais nacionais). Atuou em 2010 na peça “Amores” de Alexandre Gutierrez, premiada no IX Festival Estudantil de Teatro do Colégio Além Paraíba (FETECAP) nas categorias de Melhor Texto e Melhor Espetáculo, além de ter recebido o Troféu Especial do Júri. Atualmente, está em cartaz como ‘Wandinha’ no musical ‘A Família Addams’, da Entreato Produções.
Esse espaço maroto de apoio e fomento à cultura pode mostrar também a sua marca!
Agora você pode divulgar seus produtos, marca e eventos na Trama em todas as publicações!
No plano de parceira Tramando, você escolhe entre 01 e 04 edições para ficar em destaque na nossa plataforma, ou seja, todas as publicações das edições publicadas vão trazer a sua marca em destaque nesse espaço aqui, logo após cada texto e exposição . Os valores variam de R$40,00 a R$100,00.
Para comprar o seu espaço aqui na Trama é só entrar em contato através do whatsapp: (32) 98452-3839, ou via direct na nossa página do Instagram.