Compositor de repertório expressivo para piano solo, já estreado na Europa, Ásia e Américas, o compositor Luiz Castelões acaba de ter sua obra “Black MIDI” (Midi Negro) para “pianorrobô” selecionada como finalista do MAP – International Music Competition 2023, em Los Angeles, Califórnia. A obra foi gravada pelo produtor juizforano Nando Costa no estúdio XpandMusic (também em Los Angeles) no final de dezembro de 2022 e lançada no Youtube em seguida.
Perguntas geradas pelo próprio compositor através do chat GPT
Por que compor para pianorrobô?
Luiz Castelões: Para possibilitar a criação de música que possa ser imaginada pela mente humana, mas não pode ser habilidosamente tocada já que a dificuldade tem a ver com a estrutura das mãos e braços do corpo humano. Um pianorrobô é mais veloz que todos nós, e tem mecanismos debaixo de todas as 88 teclas do piano,de modo que ele pode tocar como se tivesse 88 dedos, ou 3 mãos em vez de 2. Claro que no final das contas não se trata da velocidade pela velocidade, mas de se fazer música expressiva com essas novas possibilidades. Ou seja, o objetivo geral é deixar a imaginação musical ainda mais livre. É bom deixar claro que o robô não é usado, neste caso, pra substituir o ser humano, pianista-intérprete, mas para fazer o que o ser humano não consegue fazer, quanto à velocidade com que se toca. Ele abre, portanto, a possibilidade de que novos tipos de música sejam inventados – e ouvidos.
O que é exatamente este “pianorrobô”?
LC: “Pianorrobô” é a expressão que eu decidi usar para me referir a este instrumento de maneira que o público possa entender mais rapidamente do que se trata. Se trata de uma “pianola digital”. Um piano que toca sozinho, mas não como as pianolas antigas – aquelas que apareciam em desenhos animados, por exemplo, alimentadas com rolos de papel perfurado –, e sim digital atual que é alimentada por arquivos digitais. No meu caso, para esta obra, eu tive acesso a um modelo de Disklavier, o pianorrobô fantasmagórico que vem sendo desenvolvido pela Yamaha há cerca de 40 anos e que agora atingiu um patamar que nos permite, com algum empenho algorítmico, fazê-lo soar como manuseado por ser humano, ou então quase. Há outras marcas de pianolas digitais também, como o Steinway Spirio, nas quais minha obra poderia ser tocada igualmente.
E como funciona o processo de compor pra essa geringonça?
LC: Em tudo é parecido com a composição para um pianista humano. Eu crio a música, escrevo a partitura dela com lápis e papel, transcrevo ela para um computador, gero um arquivo digital, o corrijo de ouvido ao ouvi-lo em playback, e finalmente encaminho para o técnico de estúdio que faz o pianorrobô ler a partitura, e lá ele filma e grava o resultado, para depois a gente divulgar a um público mais amplo.
O pianorrobô tem musicalidade?
LC: Não. Ele apenas toca literalmente o que está escrito na partitura que eu compus. Ele não adiciona, nem retira, nem altera nada do que eu escrevi. Embora eu tenha notado alguns poucos erros (falhas) dele nessa performance, o que me fez pensar se ele não estava já se tornando um pouco humano……rs
Qual a contribuição imediata de uma obra tocada por pianorrobô para a música?
LC: Ela produz 2 liberdades: 1) a liberdade do intérprete-pianista humano, que não precisa mais executar fisicamente músicas difíceis (ou impossíveis), e 2) a liberdade do compositor, que pode deixar sua imaginação livre para pensar em uma música que esteja muito além dos limites do corpo humano.
E o que você pensa que a obra propõe para o futuro?
LC: Utopicamente falando, a obra propõe de um lado uma musicalidade extremamente humana para os robôs-músicos do futuro, e de outro, um corpo infinitamente mais capaz, quase super-heroico, para os músicos-humanos do futuro.
Fig. 1 – Trecho do rascunho de “Black MIDI” para Disklavier solo (2022), de Luiz Castelões
Fig. 2 – Trecho da partitura de “Black MIDI” para Disklavier solo (2022), de Luiz Castelões
Revista Trama: O que é esse concurso? É a sua primeira participação? Como é ser finalista?
LC: Sim. É a primeira vez que participo. Trata-se de um concurso internacional de composição realizado anualmente por essa instituição sediada na Califórnia chamada MAP – International Culture Exchange Center, com uma banca seletiva internacional com dezenas de jurados estrangeiros (https://markerandpioneer.com/current-jury-at-map-imc-2023/) e aqui vai o website deles: https://markerandpioneer.com . Música não é esporte, não é competição,mas, obviamente, obter reconhecimento internacional por uma obra composta aqui mesmo em Juiz de Fora é gratificante.
Confira o vídeo-partitura:
Abaixo o vídeo da performance:
Luiz Castelões é compositor nascido no Rio de Janeiro e radicado em Minas Gerais, onde atua também como professor de Composição Musical da UFJF desde 2009. Sua música integra influências da música popular brasileira, da música de câmara contemporânea e do universo Pop. Como compositor, recebeu prêmios como os das 14a e 24a bienais de música brasileira contemporânea (2021 e 2001), do Ibermúsicas (2015), da Escola de Música da UFRJ (menção honrosa, 2012) e do Festival Primeiro Plano (Melhor Som, 2003). Sua música tem sido estreada e gravada por grupos internacionais como o East Chamber Music (Canada, 2022), Roadrunner Trio (Holanda, 2020), o Ensemble Linea (França, 2019), o Aleph Gitarrenquartett (Espanha, 2019), o Ecce Ensemble (França, 2018), o Ensemble Mise-En (Coreia, 2018 e 2017), o Quartetto Maurice (Itália, 2016 e 2014) e o Mivos Quartet (Espanha, 2015).
URL: www.luizcasteloes.com Contato – email: lecasteloes@gmail.com ; Cel.: (32) 98406 8080
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