De certo, só as incertezas

Era manhã de primavera. Sob um sol ameno, intimidado por nuvens diáfanas, aquele rapaz entrava com suas filhas pelos portões do parque natural cheio de contentamento, apreciando o movimento das alegres presenças em volta. 

A brisa temperada dominava os sentidos dos caminhantes. O balanço das árvores lembrava uma dança embalada pelo ritmo do vento e pelo seu canto em forma de assobios. As meninas, com suas bicicletas predominantemente cor de rosa, viam a agitação que aquele fenômeno da natureza causava no ambiente. Preocupadas, uma delas perguntou: 

— Papai, será que vai chover? 

O pai, olhando para as nuvens que escondiam o sol, respondeu: 

— Certamente, meninas. Com esse vento todo e com aquelas nuvens acinzentadas… certamente. 

Ansiosas por aproveitar o momento antes das águas descerem do céu e levar embora toda a diversão, elas pedalavam nas ruas do parque seguidas pelos olhos do pai. Não demorou muito, uma claridade infinita iluminou todo o Gericinó. Acompanhada por uma forte onda de calor, ela obrigava os friorentos a se livrarem de seus casacos que, naquele instante, não tinham mais serventia alguma. 

Paradas sobre as bicicletas, esperando o pai alcançá-las, as meninas olhavam o céu com expressão de desentendimento. O pai, chegando próximo delas, perguntou: 

— O que houve meninas? Por que pararam?  

Elas, com uma enorme interrogação estampada em seus rostos, questionaram: 

— Papai, olha isso. Acho que não vai chover não. Você se enganou. 

O pai, sem nenhuma reserva, admitiu seu erro dizendo: 

— Realmente, vocês estão certas. Acho que me enganei. 

Seguindo ao lado das meninas que naquele momento empurravam suas bicicletas, um diálogo intrigante entre eles se iniciou. 

— Papai, se antes você disse que certamente ia chover e o tempo mudou; quem garante que a nova certeza não seja um novo engano? — perguntou a ursa maior desconfiada. 

— Eu não tenho como garantir, minha linda. A gente só espera que as coisas aconteçam — respondeu o pai despido de razões. 

— Mas ainda pode chover, não é, papai? — interrompeu a ursa menor buscando certezas. 

— Meu coraçãozinho, eu agora já não sei mais — respondeu o pai. 

Inconformada com a resposta, a menina disse: 

— Papai, mas você tem que ter certeza. Você é grande — afirmou a loirinha indignada. 

Com uma gargalhada aguda e espontânea, o pai respondeu a menina dizendo: 

— Minha querida, a única coisa certa nessa vida são as incertezas. 


Felipe Rodrigues

professor e analista de planejamento. Morador da cidade de Nilópolis, RJ, é mestre em linguística aplicada, especialista em literaturas de língua inglesa e em tutoria em educação à distância. É autor de três livros lançados em 2022 publicados pela Amazon e Clube de Autores – Quantos Contos, Novos Contos e Altos Contos. Alguns de seus contos e poemas compõem as antologias Vozes que se encontram e Contos do além-mundo publicadas pela Editora Tenha Livros em 2022. Para 2023, três poemas do autor já estão selecionados para a antologia Veracidade a ser publicada pelo Grupo Editorial Casa de Bonecas da Academia Independente de Letras de Pernambuco. 

@prof.rodriguesfelipe 


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Um comentário

  1. Linda prosa. Adorei!!!

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