Para M.V.
Porque o amor é mesmo cego.
Como um cisco que o vento sopra
O poema entrou dentro do meu olho e
deixou seu nome de homem no lugar da Iris.
Por isso desde então confundo seu nome
quando leio a palavra amor
E pisco e pisco e fecho os olhos como
quem fecha o livro que ama sobre o peito.
Mas o cisco não sai.
O poema-venda.
O amor à primeira vista e de primeira mão,
pra você, garanto, garanto.
Por isso tenho tantos óculos,
respondendo sua pergunta.
Porque te amo em graus variados e nem
sempre fica nítido por que te amo tanto.
Depois te amo ainda mais.
Embora entre nós tudo fique cada vez
mais claro – o nada escuro não nos permite.
Assim consigo te distinguir perfeitamente
entre passagens paisagens passaportes
vistos de permanência…
Como um cisco que erra sem asas
o poema caiu dentro do meu olho.
E agora meu olhar te cobre na
distância já que eu mesmo não posso
te cobrir… ou descobrir da cegueira
que a vida, com seus olhos de Sina,
transforma em sinal verde. Vermelho talvez.
Nós dois não somos miragens.
Eu sei que não.
Mas a tempestade de areia com
tantos ciscos
tantos desertos
tantos véus
é.
Não. Não estou chorando.
Um cisco caiu no meu olho.
E um poema se ergue das lágrimas.
Pablo Diassi é poeta, escritor e filósofo. Mestre e Doutor em Literatura Brasileira e Teoria da Literatura. Autor dos ensaios Filosofia irada e Filosofia selvagem, ambos sobre Clarice Lispector.
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