Entranhas

escrevo-te como quem escreve por necessidade 

falo do que sinto 

e me atravesso a um outro lado de ti 

quem dera eu pudesse dizer-te aos sussurros 

as palavras mais belas sobre os passarinhos a voar no meu quintal 

ou 

os ditos toques cheios que percorrem a minha boca com teu licor 

escrevo e preciso escrever sobre amor 

mesmo que em ti eu não o encontre por espontânea criação 

e em mim exista a obrigação de florear esse teu sentimento outonal 

quero trilhar entre teus dedos uma música escultural 

imaginar dimensões nas fantasias de pele quente quando em ti passeio 

e quero tudo inteiro 

percorrendo minhas vísceras 

e que estas sejam nutridas pelo buraco negro da nossa convergência 

escrevo-te como quem tem coragem de gritar 

aos ventos cantantes as nossas dignidades acidentais 

e resgato as estrelas para contar histórias esmiuçadas de mitos que a nós são estruturantes 

escrevo e preciso escrever porque sinto 

com e sem vírgula 

Amor 

vivo em mim o calor 

e me preencho pelos raios de Sol que saem das tuas inesperadas cartas 

e me engano ao ignorar as descargas elétricas que nos derrubarão no que há por vir 

Por fim, eu respiro a ti 

como um último instante de ar nos pulmões que penetram meu corpo debilitado por frequentes ilusões 

e seguro como se minha esperança tivesse o poder de me entregar mais uma entrada de oxigênio no meu sangue que nesse instante está tão restrito e escasso 

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