Rio das histórias e cantigas de amor
Rio das vidas que se fizeram cidades
Rio dos refúgios de tantas espécies
Rio dos imigrantes e quilombolas
Rio dos negros fugitivos
E dos quilombos que nasceram em suas margens
Rio dos que vieram e ficaram
Rio dos Paiaiás, Maracás
E outras etnias que ninguém sabe
Rio de tantos aventureiros que chegaram e se foram
Rio dos tropeiros e garimpeiros
Rio do ouro e dos diamantes
Rio da Estrada Real
E do tesouro que atravessava suas águas
Rio das primeiras casas e abrigos
Rio da Palha e da rua da Palha
Das primeiras feiras e dos atravessadores
Barqueiros e jangadeiros
Rio das águas que matavam a sede
E a fome de quem ficava ou caminhava
Rio dos namorados
Rio dos amantes das noites de lua do sertão
Rio das histórias de amor
Dos prazeres e das dores
Que eram cantadas e choradas
Lágrimas que rolavam em suas águas
E se transformaram
Em histórias encantadas de amor
Rio das margens largas
Das matas ciliares e árvores frutíferas
Rio das matas onde meninos brincavam
E as mulheres cantavam
As roupas que lavavam
Junto às suas dores que secavam
Como suas lágrimas ao sol
Rio dos homens e das mulheres
Que aqui chegaram e se apaixonaram
Rio da primeira rua
Rio da Rua da Palha
Das paliçadas que abrigavam viajantes
Rio das festas e orgias de bem-querer
Rio dos curumins que nasciam
Após as noites de amor
Rio da Yara que viu tudo e abençoou
Rio do Jarê
Dos caboclos que sabiam
De tantos dramas humanos
Que também abençoavam as
Desditas humanas
Rio histórico e cultural
Rio das águas que foram se infestando
De dejetos humanos
Rio de dejetos desumanos
Rio das casas que cresceram tanto
Em suas margens que agora o estão matando
Rio sem matas ciliares
Rio que se afoga pelo descaso do poder
Rio que perde seu viço
Rio que perde sua vida
Rio que assoreia e vai desaparecendo
Sob o aterro cruel do lixo
Que o ser inumano produz
Rio que é mãe e pai de Seabra
Rio da Chapada Diamantina
E de tantas cidades mundo afora
Rios que são vida e se despedem do mundo
Mundo que fecha seus olhos
Para os rios que agonizam
Rios que agonizam junto a tantas espécies
Rio das mortes de tantas belezas
Rio da beleza humana que morre
Junto com a morte do rio.
Jorgefirdauz nasceu em Belém do Pará. Seu primeiro livro foi uma coletânea de poesias chamada “Papo de Taberna” escrito à muitas mãos com poetas em Porto Velho. Entre suas publicações estão: “A Iniciação, diário de uma viagem à Índia”, “Elias em a Fábula do Castelo”, “Inácio” e “Um estranho dia na vida do jovem Amadeus Gomes de Almeida seu último romance. Participou de vários concursos de contos e poesias no país alcançando o primeiro lugar em alguns deles além de menções honrosas. Hoje escreve seus textos em sua página de facebbok (Jorgefirdauz) e instagram (jorgefirdauz).
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