Ma La Nihaya 

Hoje, mais uma vez, visitei a onírica Ma La Nihaya. Ma La Nihaya, a eterna, Ma La Nihaya, a atemporal. Ninguém sabe ao certo como chegar em Ma La Nihaya. Em meios aos vales esquecidos de um planeta moribundo erguem-se pilares ciclópicos de obsidiana negra, tão altos quanto a vista pode alcançar.

Construídos sob a luz vermelha de sóis que há muito se apagaram, as colunas rasgam os céus como uma sombra, refletindo a escuridão do abismo sem fim que cerceia a existência. Sobre os blocos cinzentos de pedra vulcânica de suas ruas, e por entre as vielas abandonadas e desprovidas de vida que se estendem até o horizonte, sopram ventos gelados que cheiram a esquecimento, impregnando o ar com o aroma pútrido do aniquilamento de incontáveis mundos. Cada átomo ali conta uma história tão antiga quanto o próprio universo, um ciclo de morte e renascimento perpétuos que se estende do passado remoto ao futuro longínquo, inacabável em sua infinitude material. Ali, em frente aos portões teratológicos cobertos por escritos apagados em um sem contar de línguas desmemoriadas, atirei-me de joelhos ao chão, e gritei até minha voz se transformar em um ganido agudo e rouco que pouco diferia do lamentar dos ventos. Jogado ao chão, testemunhei um desfile macabro de criaturas horríveis, mortas antes mesmo de nascerem, cujas formas disformes assombraram-me por completo pelo resto de minha vida, e pelas mil vidas que vieram depois. De olhos fechados e em meio a escuridão absoluta que infestava as ruas, assistia o corso nefasto em procissão, a festa profana da qual não podia escapar. Em um ato desesperado, cavei meus próprios olhos exânimes, e sangrei pelas órbitas ocas até desfalecer. Meu corpo morto ressecou e foi transformado em pó lentamente, ao longo de milênios. Deste pó nasceram incontáveis gerações de criaturas horrendas, cada uma mais medonha que a anterior, condenadas a participar de uma procissão macabra que se estendia infinitamente ao passado e ao futuro. Após ser cada um daqueles seres horríveis, e os ser mil vezes mais, morri uma última vez, e ao pó voltei, para ser soprado por ventos fétidos até me dispersar por completo. Foi ai que acordei, e rememorei minha visita à cidade maldita, escondida atrás do véu dos sonhos, além da realidade e fora do tempo. Ma La Nihaya, a perpétua, Ma La Nihaya a inesquecível, Ma La Nihaya a imemorial, segue alheia às mazelas da mortalidade. Lá ela estava antes do universo, e lá continuará após a última estrela se apagar, depois do último buraco negro evaporar, quando não existir mais nada. E lá estarei eu, e você, e quem mais existiu, existe e existirá, por toda a eternidade, e depois dela. 

 


Hely Branco divide seu tempo entre escrita e ciência. Geólogo e Astrônomo, é doutorando em ciências planetárias, desenvolvendo pesquisas sobre crateras em Marte. É militante comunista e ambientalista, defendendo a construção de uma sociedade mais justa e igualitária, na qual a proteção do meio ambiente e a garantia dos direitos humanos essenciais é prioridade. Quando o tempo permite, dedica-se à literatura e a escreve um pouco de tudo, em especial ficção científica, terror e fantasia. 

@helycbranco 


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