A culpa de todo aquele caos era da saudade.
Talvez eu esteja equivocada, o correto seria dizer que parte do caos se devia a saudade. Mas a frase, como colocada, funcionava melhor para dar início ao texto. Certamente, as pessoas que estavam naquele lugar sentiam falta do tempo no qual viveram: o tempo absoluto… “No meu tempo que era bom”, essa era uma das frases mais repetidas durante a confusão incitada naquele fatídico dia. O dia em que a saudade passou a doer.
Piracicaba não é uma cidade gigante, normalmente é possível ir da zona norte ao centro em apenas uma hora. Bastava apenas pegar a linha 444 – Sônia/Centro. Naquele dia, decidi romper o ciclo da minha saudade e resolvi visitar uma pessoa muito querida, contudo essa pequena viagem durou uma eternidade. E para piorar, eu nunca cheguei ao meu destino. Naquela tarde, eu aprendi da pior forma que a nostalgia de alguns pode se tornar uma navalha, ferindo permanentemente os outros. Logo eu que nunca me interessei por política, descobri que o flerte delirante com um passado glorioso talvez seja um indicador de crueldade – do tipo que inevitavelmente condenaria uma nação inteira.
Quando o ônibus se deparou com o caos, eu estava com a cabeça encostada no vidro, mexendo no celular. Uma massa histérica bloqueava o caminho e devido às bandeiras, podia jurar que se tratava de algo relacionado a futebol. Antes fosse! A polícia dava cabo de torcedores fanáticos rapidinho, como sempre deu, mas daquela vez foi diferente.
Diferente de um jeito que só a saudade poderia explicar…
O caso é que a pista estava bloqueada e a minha mãe enferma que eu não via há mais de seis meses me esperava do outro lado da barreira. A saudade que eu tinha dela me colocou naquele trajeto, mas a saudade de terceiros o bloqueou para sempre. Nas doze horas que permaneci ali, uma distância intransponível foi colocada entre mim e a pessoa que eu mais amava nessa vida. Na décima terceira hora, ao me ligar, minha irmã me comunicou que o infortúnio se concluiu.
Minha mãe se foi para sempre.
A saudade permaneceu e o bloqueio também.
Tchelo Andrade, 30 anos, escritor, game designer, ilustrador, produtor cultural e educador patrimonial desde 2010 tem trilhado uma jornada pelo caminho das artes independentes e do aprendizado autodidata. Atualmente estuda Licenciatura em História pela Faculdade Estácio, é liderança no projeto de impacto social Fundação Triunfo e escreve aventuras de RPG para a editora Retropunk do Rio de Janeiro
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