INVISIBILIDADE PRESENTE

A palavra ‘humano’ não apenas designa a nossa espécie na linguagem cotidiana, como também carrega um outro sentido: o de empatia, de compreensão, de respeito. Todas essas coisas partem do princípio de receber o outro – por falta de uma palavra melhor, “ver”.

Respeito, empatia e compreensão não são regras universais na sociedade em que vivemos; ao contrário, frequentemente são recebidos com surpresa. Por uns mais do que por outros, porque, afinal, ainda que nos esforcemos para isso, não somos todos iguais. Muitos de nós ainda somos invisíveis – e uns mais do que outros, a ponto de sermos privados de nossos direitos.

Nós, invisíveis, talvez sejamos maioria. Estamos em todos os lugares, mas só somos percebidos por quem realmente se interessa. Somos LGBTs, são pessoas com deficiência, são pessoas em situação de rua, são trabalhadores do seu cotidiano. Somos pessoas que, até outro dia, só serviam para o núcleo de alívio cômico da novela. Somos pessoas cujas histórias só agora começam a ter algum protagonismo. Somos pessoas que ainda se preocupam em tentar não incomodar, tentando assegurar sua própria condição humana: o reconhecimento de sua existência, sua visibilidade.

Para além das questões minoritárias, há também aqueles que não destinam um olhar nem àqueles que dizem amar. Que olham sem ver, olham através das pessoas, olham e veem o que desejam ver. Crianças têm sua humanidade negada por seus pais, preocupados com o trabalho e com todas as coisas; avós que têm sua humanidade negada por seus filhos e netos, que só têm olhos para seus celulares e computadores; amigos, que estão sempre apoiando, mas nunca têm suas necessidades vistas.

Ser humano e viver em sociedade de forma plena implica a necessidade de reconhecimento do outro. Numa conjuntura como a nossa, é inquestionável que o homem, enquanto humano pleno, é um ser futuro. Uma cultura que incentiva comportamentos autocentrados e que designa o olhar humano para o outro enquanto coisa de gente “da igreja” (o que já seria, em si, o início de uma outra discussão bem mais profunda), com certeza, contribui para que esse futuro seja bem mais distante do que gostaríamos.

Ainda que cada um de nós tenha suas questões individuais e que seja extremamente necessário escolher suas próprias lutas, se abrir para pensamentos, dores e experiências de outrem é parte importante de tornar a nossa sociedade mais humana e mais justa.


Carol Cadinelli é jornalista, apaixonada por palavras. Escreve, edita, revisa, traduz e, vez ou outra, fotografa. Atualmente, é editora na Trama.


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