De longe a estrada parece terminar logo, deitada assim na poeira do caminho. A moça com rosto de carta de baralho encara com os olhos semiabertos, Aquele Sol matizado com as pérolas de grãos de areia, que dançam entre seus cabelos. Abri-los dói. Onde esteve até agora? Que viagem é essa que não a deixa continuar? Os companheiros de itinerância ficaram para trás não existe saudade. Cumpriram seu papel e seu destino. Tão inusitado e misterioso destino que ata num momento e abandona no outro, deixando a trupe com o olhar vagando no vazio do desentendimento, Nos perigos da estrada sem indicações sobre paragens para o próximo espetáculo. O que cada um viveu na escuridão das estrelas não pode ser relatado. A alma ignora a linguagem sussurrada pela natureza. A reprodução acontece apenas através do olhar que mira aquela estrada quente, sufocante, ignota. Deserta. A moça de naipes variados desconhece o jogo atual. A configuração é aleatória e as suas possibilidades, uma incógnita. Ela ainda não sabe bem se desejado. Se é belo ou seguro. Mas ela jamais teve segurança até agora. A distração era o seu lugar de refúgio. No momento, está só. Todos se dispersaram nos ventos feitos de calor e que sopram no mormaço do caminho. A próxima mão poderá ser a chance de escolher ser ela mesma, e viver um naipe. Ela bem que pensou em ouros...
Marina Alexiou é mestre em Filosofia pela PUC/SP e estudiosa das Artes. Escritora de prosas poéticas desde 2009, participou do livro “Coimbra em Palavras”, lançado em Portugal em 2018. Gosta de colecionar belas imagens, pois elas a levam para o seu mundo simbólico inspirando a sua escrita.