Eu não sei interagir com obras de arte. E não é por falta de tentar.
Sempre adorei ir a museus, independente do tipo. Como boa Juizforana, visitei o Mapro algumas vezes, o MAMM tantas outras, o Memorial da República; e as visitas a Petrópolis não deixavam a desejar: Museu Imperial, Museu de Cera e Museu da Bohêmia me viram aparecer algumas vezes. Aqui em São Paulo, também não perco oportunidades: Pinacoteca, Museu da Língua Portuguesa, Farol, MAM, MIS, MAC-USP… E os planos de ir a todos os que ainda faltam na lista estão sempre prontos. Mas é verdade que não sei o motivo de eu gostar tanto.
Duas semanas atrás, fomos à Pinacoteca. Uma construção imponente, recheada com milhares de obras de artes visuais: pinturas, fotografias, esculturas, instalações. E frente a toda e a cada uma delas, me peguei pensando: “mas e agora, o que eu faço?”. A exposição em cartaz, além do acervo fixo, era “Suturas, Fissuras, Ruínas”, da artista Adriana Varejão. Os trabalhos que a compunham são do tipo que a minha criatividade, muitas vezes celebrada pelos que me cercam, seria incapaz de gerar. Fiz um vídeo da instalação ao centro da Pinacoteca, e umas duas ou três fotos com o celular. Passei algum tempo observando as colunas e paredes modeladas com pedaços que simulavam carne e, depois de um tempo, a pergunta: “mas como eu deveria olhar para esses trabalhos?”.
A verdade é que eu não sei. Enquanto frequentadora assídua de espaços museais, eu não faço a menor ideia de qual é o jeito certo de olhar para obras de arte, nem do que fazer diante delas. Vejo as pessoas que passam, mal olham, tiram fotos, selfies, e passam pra próxima; não me parece um bom jeito, mas acho que o meu também não é. Olho, e não sei o que pensar. Pensar só se gosto ou não me parece raso; afinal, qual é o motivo que leva uma pessoa a gostar de uma obra? e o quanto isso diz sobre a obra em si? Ora, gostar ou não diz muito de mim e nada da obra – e, de mim, confesso que já estou um pouco farta.
Já tentei pensar sob um olhar mais técnico, perceber o registro do processo no resultado final. Em pintura e fotografia é mais fácil; escultura é outra história. Mas o que significa uma pintura ter pinceladas mais longas ou curtas, ser mais ou menos realista? Sei lá, sei lá. Eu tenho quase certeza que pintor nenhum pinta a partir das teorias das aulas de arte: “a pincelada assim traz uma sensação de calma”, “o preto significa que o retrato traz sentimentos sombrios”.
Já tentei olhar, também, sob a ótica histórica, tentando enxergar ali o que não está registrado: a cultura e os modos de um tempo que já não existe mais – e ainda assim, me parece um recorte muito pequeno, incapaz de compreender aquele objeto que se encontra diante de mim. Abordei, também, o olhar de absorção de referências – essas, para as quais ainda não encontrei utilidade além de dizer ‘essa aqui parece com aquela’. Nada parece certo.
Dizem que o objetivo da arte é causar sentimentos. A mim, causam essa confusão, de jamais sentir que estou olhando da forma certa – o que me leva a olhar de novo, e de novo, e de novo, tentando enxergar a completude da obra que vejo. Eu, ansiosa, que nunca fui dada a contemplações, me vejo presa: ao não saber como agir ou pensar da forma correta, não ajo ou penso; Compulsoriamente, contemplo.
Carol Cadinelli é mulher de palavras (e, às vezes, de fotos). Jornalista pela UFJF, pós-graduanda em Produção Editorial pela LabPub. Gosta de comidas inusitadas, viagens grandes e pequenas, narrativas sáficas, tatuagem, exposições de arte e de São Paulo, onde divide um apartamento com Elis Regina e Elza Soares. Atua profissionalmente como editora na Trama e redatora na VCRP Brasil.
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