x em x ir a x sair x
x ia x ta x ma
x ama x
quanta poesia
fiz enquanto não fazia
tanta poesia
(Ricardo Aleixo,
o pesado demais para a ventania)
Como falar, brasileiro? Falar para a vida, não só academicamente. Falar de arte, cultura e criação: todo brasileiro fala das três instâncias, então, por que não falar, brasileiro? Se todos nós, em nossos distintos modos, falamos, às vezes sobre nossas criações ou as dos outros. Lidamos com a criação, vivendo e não tendo vergonha de ser feliz.
Viver é criar, improvisar. Estar em vida física, carnal, em terra. Entre a plenitude e a escassez, queria que todo brasileiro tomasse consciência de si. Reconhecer Brasis é para Ontem, nos disse Luan Pedretti. E como engolir a consciência de si? Talvez, você queira a cuspir, quem sabe? Pense numa espécie de volta à onde tudo emergiu nesse país tropical, o que viu? Então, vamos falar brasileiro!
Falo a vocês, mas também falo a mim.
Falo, coisas da linguagem.
Provando como é limitada
Ou falha? Ou ainda, ambas?
O Brasil sabe sobre os processos de apagamento e formas de alienação forjados com maestria para diminuir, na verdade, aniquilar a contribuição artística e cultural dos
descendentes de África. Por isso, é tão fundamental a discussão a respeito no ensino de artes, é preciso a atenção a Lei que prevê a valorização e difusão de tais produções nos ainda, cistemas de ensino.
Sair em busca de saberes outros, saberes estes que durante muito tempo esteve em segundo plano nas discussões, só que agora há múltiplas vozes e infinitos espaços, para que não ocorra o desaparecimento do conhecimento afro diaspórico, suas informações e expressões no contexto brasileiro. É preciso falar brasileiro: que muito em breve esses cistemas entraram em colapso, as LGBTQIAPN+, em suas nuances de racialização, estão falando demais, existindo demais, mesmo em toda a amargura de serem assim, terem um jeitinho brasileiro mais diferenciado, nesse país de terra ferida que nunca se sara.
Sendo sujeito de minha prática, sinto-me convocado a revelar histórias de meus antepassados, amostrar majestades negras e negros que me doam existência vitalmente. São com eles que conseguiremos emergir nossas perspectivas negreiras num cistema elitista, opressor e racista. Precisamos falar brasileiro – a emergência interseccional ou o descobrimento dos níveis de diferenças? Há quem infira a multiplicidade de identidades e territórios, sendo a crise de si e do lugar, o grande paradigma.
A comunidade afro diaspórica no Brasil possui uma ferida de aguda cicatrização pela subalternização histórica. Criando nas artes, tentam curar-se, nesse percurso, hora se ferem mais, hora se curam, até a ferida se apresentar de outro jeito. As tais dimensões espiralares das questões socio raciais emocionais psicológicas, o que mais você acrescentaria aqui? Ou tiraria? Ou, nem chegou a imaginar tais dimensões?
Abra o portal para abrir a porta
Abrindo a porta, o portal se instaurará
Consciência Primeira: nascer brasileiro, é nascer embranquecido.
E aí, me pergunto te perguntando: não somos todos brancos, também não somos todos negros, muito menos, todos pardos. O que somos afinal? O que alguns se tornam ou se desviam de tornar-se? Como responder, brasileiro?
Uma questão corporal.
Pelo corpo, desembranquecer.
No que estamos chamando de Arte Afro Diaspórica, a produção realizada por integrantes desta “comunidade” no Brasil, está intrinsicamente ligada as expressões corporais, ao tornar seu corpo um signo poético político. Uma possível forma de afirmação de suas “identidades” em suas expressões corporais carregadas de cultura? Talvez. Não separam o corpo da vida, o corpo que dá a vida. Talvez na arte, mas sempre na vida.
Sim, pode ser uma boa hipótese, tendo em vista que a luta do ativismo negro pelo aumento da autoestima de seu povo, seja um ótimo exemplo para pensarmos a retomada ou reforço da valorização dos referenciais estéticos africanos no Brasil. Precisamos falar brasileiro: essa memória não cabe ao Ocidente.
É preciso falar negros brasileiros: tornarmos heróis de nossas vivências. Afinal, estivemos ou não em África? Meus caros, caras, curas, coras: um Brasil sem África não existe, pois a herança africana segue resistindo, reexistindo por toda parte deste país tropical, abençoado por vocês sabem quem, bonito por natureza e destruído pelo brasileiro.
Sendo-me sujeito negro artista que pesquisa, envolvo-me no balanço de minha corporeidade e oralidade, codificando minhas memórias – corporalidade. Há em meu corpo memórias inexplicáveis em prosa. Mergulhando em mim, sinto poder para contribuir para as discussões de nossa diversidade étnico racial cultural. É assim que eu falho, brasileiro.
O que tenho praticado pesquisado é meu corpo e o corpo de semelhantes, corpo em dimensões sensíveis, corpo improvisador. Improviso dor? Tentando não sucumbir as adversidades racistas e homofóbicas dos cistemas artístico, acadêmico e institucional, confesso que ainda não consegui mensurar se felizmente ou infelizmente me lancei
neste lamaçal.
E vou. Sigamos. Hora aqui, hora ali. Sem tempo, mas com tempo para a vida. Venho Instaurando Portais: nos vales, nos montes, nos mares, nos bares, EM CASA. (Ainda bem que saímos?) Quem pode sair? Tenho saído, brasileiro. Articulando corpo e temporalidade. Integrando céu e terra. Passando saberes em minha relação com o mundo, com as coisas, com as pessoas, LEMBRO-ME: nas dinâmicas ancestres, um corpo é um todo.
Venho aparecendo, desaparecendo.
Que bom que veio até aqui
(Quer dizer: espero que tenham)
Obrigado por oferecer-te a mim
Há muito tempo, ofereço-me a vocês
…
Até aqui
Falei ou Falhei, Brasileiro?
Será que precisamos, na verdade, falhar, brasileiro?
Augusto é mestre em artes visuais, preparador corporal de performances, ensaísta, pesquisador e professor.
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