A pauta musical tem como função guiar o intérprete na execução de uma música, recorrendo, para isso, a figuras que servem como instruções. A figura do traço grosso horizontal pendurado na quarta linha da pauta é uma figura de pausa, significa uma suspensão do som. Enquanto essa figura durar, o intérprete deve produzir silêncio, pausar, parar. A figura do ponto coroado por um arco acima das linhas da pauta chama-se Fermata, ou Suspensão, e significa “sustentar por tempo indeterminado, além de sua duração normal” – ou seja, sustentar a nota ou a pausa por quanto tempo o intérprete acredita ser necessário para que a dinâmica da música seja respeitada ou determinado efeito seja alcançado.
Portanto, a fermata sobre uma pausa significa sustente a pausa por tempo indeterminado, por quanto tempo for necessário.
Somos uma sociedade que não consegue sustentar a fermata – somos péssimos intérpretes, que não respeitam as pausas e os tempos da vida. Inseridos em uma mentalidade de produção ininterrupta, não conseguimos produzir o silêncio. Como resultado, estamos fadados às músicas (e às sociedades e aos cotidianos) sem dinâmica, sem cadência, sem vida – reproduções constantes e incessantes de estímulos cada vez mais sem sentido ou significado.
Temos medo (ou eles têm medo) do silêncio, do vazio, falhando em perceber o que John Cage nos alertou: “nenhum som teme o silêncio que o extingue, e não há silêncio que não esteja grávido de sons”. Não há pausa que não esteja grávida de vida; de outras possíveis vidas, processos, dinâmicas e mundos. Devemos repensar nossa responsabilidade como intérpretes se queremos algum dia compor novas músicas, com novos ritmos, dinâmicas e tempos.
Loan Tammela (1993, Petrópolis-RJ) trabalha principalmente com a técnica de assemblagem para produzir instalações e objetos de diversas escalas, explorando o uso de materiais banais, muitas vezes de reutilização. Sua pesquisa artística busca a ação de repensar as atividades cotidianas através da criação de novas estéticas, relações espaciais, corporais e intertextuais. Possui formação interdisciplinar em Arquitetura e Urbanismo pela FAU-UFRJ e Artes Visuais pelo Parque Lage e é músico autodidata, criando trabalhos em que os três campos se complementam e complexificam.
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