Brilho eterno de uma mente com lembranças  

Juiz de Fora, 2022.  

As inquietações das lembranças atordoam o pensar. Por vezes, seria melhor esquecê-las do que, de fato, prosseguir na tentativa de entender o que perpassa no imaginário. Teria, afinal, algum sentido na dor?  

Joel e Clementine desafiam as linhas tênues do amor, do esquecimento e do ressignificar no filme “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças”. Joel, com sua característica timidez, observa de longe os notáveis cabelos azuis de Clementine, que contrastam com o gélido cenário cinzento que encontraram-se. Clementine percebe os passos inquietos de Joel e decide se aproximar a fim de tornar um dia ordinário em um estreito que conecta fins e (re) começos.  

As madeixas da protagonista denunciam suas mudanças junto às estações. Por ora, mais quentes e vibrantes, assemelham-se à paixão. Nesse instante acalorado, o casal experimenta as sutilezas do encontro inesperado, dos estranhamentos que unem e dos questionamentos das certezas de viver só. Clementine busca aprofundar-se nos silêncios de Joel e, ao contrário, ele aprecia a intensidade do viver da amada que desponta dos pés que percorrem de Montauk até Nova Iorque.  

Com o decorrer do tempo, esfria-se o amor.  

Até que o clímax da criação de Kaufman traz à luz questões sobre o rememorar. Seria este tão doloroso que não valeria a pena ser vivido? Haveria um jeito de apagar memórias? Seriam, estas, ainda que excluídas, palpitadas no âmago dos reencontros?  

Clementine realiza um procedimento clínico para o apagamento das lembranças com Joel; e distancia-se de sua história e das cores que concretizaram parte dela. Joel opta por buscar o mesmo processo médico quando é tomado pela revolta de ser esquecido.  

Porém, ao caminhar pelo seu inconsciente, vê-se amando e sendo amado.  

Revive o afago de entrelaçar as mãos e fazê-la sorrir.  

Imediatamente, deseja-se esconder nas memórias para não perdê-las, enquanto ser humano que construiu parte de sua trama com o outro.  

E que papel teria o outro, se este é, talvez, o que me faz sofrer?  

Ora, o sofrimento é intrínseco ao ser humano.  

Seria, então, a solução esquecê-lo?  

Ou, concordante à Freud, o recalcado sofrer, ainda sim, despontaria no desejo do corpo? 

Existiria um “remédio universal” para as loucuras paixões, como levantado por Machado de Assis (2000)?  

O fim do sofrer seria encontrar sentido, como dito por Victor Frankl (1991)?  

Pois bem, Clementine e Joel…  

Ao esquecer ou anestesiar,  

Apagam o final de sua história; esquecem o início do encontro.  

Percebem que suas mãos não encaixam mais certo; omitem os nós inconscientes que uma vez se entrelaçam.  

Não obstante, o sofrimento seria para rememorar que há esperança. Nas respirações curtas em meio ao caos, lembramos do que mesmo importa.  

Se não for uma pessoa, que seja algo para dentro.  

Para algo maior.  

Para acreditar que “toda dor é por enquanto” (Marcos Almeida, 2016).  

Se o “[…] essencial é invisível aos olhos” (Saint- Exupéry, 2009), que o encoberto pertença a este sentido. As memórias, no entanto, que sejam um legado para construir novas histórias e carregar nesta uma bendita esperança. 

REFERÊNCIAS  

BRILHO ETERNO DE UMA MENTE SEM LEMBRANÇAS. Direção: Michel Gondry. Produção de Focus Feature. Estados Unidos: Universal Pictures, 2004.  

ASSIS, M. O alienista. São Paulo: Ática, 2000.  

FRANKL, V. E. Em busca de sentido: um psicólogo no campo de concentração. Petrópolis: Vozes, 1991.  

Música Toda Dor é Por Enquanto- do álbum Eu Saurau, 2016. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=g6el3H5kGDs.  

SAINT-EXUPÉRY, Antoine de. O pequeno príncipe. 48. ed. Rio de Janeiro: Agir, 2009. 


Chay Faustino é mulher que carrega consigo a bendita esperança em prosseguir no caminhar. Acadêmica de Psicologia na Faculdade Granbery, em Juiz de Fora- MG. Membra da Liga Granberyense de Psicologia Comunitária. Estudante interessada na subjetividade do ser e nas áreas da saúde pública e psicologia comunitária. 


Clique na imagem e conheça nossa loja virtual!
Clique na imagem para mais informações.

Esse espaço maroto de apoio e fomento à cultura pode mostrar também a sua marca!

Agora você pode divulgar seus produtos, marca e eventos na Trama em todas as publicações!

No plano de parceira Tramando, você escolhe entre 01 e 04 edições para ficar em destaque na nossa plataforma, ou seja, todas as publicações das edições publicadas vão trazer a sua marca em destaque nesse espaço aqui, logo após cada texto e exposição . Os valores variam de R$40,00 a R$100,00.

Para comprar o seu espaço aqui na Trama é só entrar em contato através do whatsapp: (32) 98452-3839, ou via direct na nossa página do Instagram.


Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *