por: Washington da Silva
No campo a gente aprende a trabalhar desde muito cedo. Aos 12, quando dava 17, as flores dos maracujazeiros se abriam. Dia após dia éramos chamados à polinizar-las manualmente. Lembro de ouvir de longe meus pais aos gritos, “cria espirito menino”, penso se era como se alguma força divina estivesse por dentro esperando para ser parida.
Nas frutiferas como o maracujazeiro, a polinização manual, ou polinização artificial, é feita pela transferência dos grãos de pólen de uma flor a outra com os dedos. As flores que não são polinizadas murcham e caem.
Os fazeres manuais, a mão do homem, o homo-faber, este, que utiliza de seus artifícios para manter sob controle o seu ambiente. De acordo com a definição de homo-faber, como resultado da utilização de ferramentas os seres humanos são capazes de controlar o seu próprio destino. Circularidade, regularidade e repetição. Seria mesmo o homo-faber capaz de alterar o ciclo da vida? Ou faz ele parte desse mecanismo? Mecanismo este que, pressupõe que determinados acontecimentos ocorram, de tempos em tempos, seguindo uma dinâmica pré-estabelecida.
Duchamp apreciava a importância do acaso. O ready-made nasce daí, nem era mais Duchamp quem controla a realização do objeto, é o acaso que determina como ele vai se constituir: “A ideia do acaso, que muitos pensavam naquela época, também me atingiu. […] O acaso me interessava como um meio de ir contra a realidade lógica […]”. Ir contra a realidade lógica talvez seja aceitar que o homem [o agricultor, o artista] não tem controle de coisa alguma.
Referências:
VENÂNCIO FILHO, Paulo. Marcel Duchamp. Brasiliense, 1986.