Efervescência em Rubro

A exposição “Efervescência em Rubro” é uma experimentação em transformação contínua e fluida que parte da necessidade da artista de acomodar na memória o registro de múltiplas experiências, e ideias que se inscrevem em sua realidade e no universo social o qual ela pertence. Partindo de uma perspectiva dialética, onde o “eu e o outro” implicam em uma contínua constituição, a artista procura falar de si, em um desejo incabível de se derramar e compreender o outro, que é a identidade e a diferença de si mesmo. Que faz síntese em seu momento de verdade, no encontro que lhe possibilita o nós ou o coletivo, dessa forma a narrativa que surge e dá forma a esse trabalho é a teia autobiográfica crítica e poética, pela forma que condensa sua cotidianidade, sua vida, suas relações sociais e amorosas e sua própria existência, enquanto os sujeito, eu e outro, que veem em seu corpo, na sua linguagem e em seu fazer artístico algo que lhe convoca a dar sentido e testemunhar esses múltiplos encontros, e as afetações que lhe atravessam, levando em conta que a vida nem sempre se apresenta numa linearidade, os fragmentos que afetam e tocam nossa existência, enquanto seres unos, são múltiplos e o modo como sentimos e elaboramos essa vivência é por si singular.

Assim, tramas corriqueiras se transformam em crônicas visuais de um cotidiano intenso e tempestivos, onde a artista coloca diante de si os seus sentimentos, na tentativa de elaborar melhor suas próprias questões. Logo, de um diário de micro memórias, a artista permeia e caminha sobre sua vida, como um outro de si, que observa e delicadamente registra pequenas experiências num intento de salva-las do esquecimento. Com o mesmo ímpeto que se salva algo, a artista busca salvar a si, sua sanidade e seus próximos do recalque violento e amargo que suspende o mundo e nos coloca à mercê de uma universalidade que é causa e consequência da individualização e do isolamento solitário que estamos sucumbidos. Ademais, esse encontro potente entre eu e outro, é síntese de um laço que nos aproxima do social e nos distancia de um individualismo atroz que quer esganar com toda diferença e diferente. Dessa forma, temas como o amor, o ódio, relações e problemas sociais, a felicidade e a tristeza, navegam numa intensidade que põe a artista a movimentar sua vida e sua existência, numa fúria calorosa de dar a ela sentido e significado. Numa dialética do cotidiano, que vai além de si e deseja, no encontro entre o eu e o outro, a redenção que possa servir de material sagrado para a construção de sua realidade.

E assim que o que é sentido é ressentido e repetido rente a própria intensidade que constrói o momento, e o modo de sentir de cada coisa. O vivido se torna vivência de quem sente e para além desse sentir, busca materializar sensações e representações em uma feição trágica e afetiva, crítica e honesta de si mesma que servem como conteúdo que envolve sua criação, a qual a artista busca intervir através de desenhos, pinturas, aforismas, instalação, arte têxtil e performance, entre outras linguagens as quais ela condensa, e aqui, nessa exposição, apresenta pequenos fragmentos de um todo, que está porvir e se fazendo a todo instante, de modo desejoso e inflamável que pretende não ser esquecido. 

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