Com tempo de sobra, ansiedade a mil, coração acelerado e os pensamentos soltos, impossível não sentir-se saudoso nos últimos meses. Há dias em que pego os álbuns de fotografias, olho cada uma das fotos reveladas, lembro de cada momento vivido, choro um pouco aqui, passo o restante do dia triste e sigo adiante.
Dias depois, ligo o computador, conecto o HD externo, abro a pasta “Fotos” e passo horas abrindo cada uma das tantas subpastas com as mais variadas fotos das viagens já feitas. Cada fotografia é um lugar diferente. Cada lugar é uma história. Cada história tem seus momentos, seus sorrisos, seus amigos. Posso não lembrar o local, a cidade, mas lembro exatamente de quem estava por trás da câmera comigo.
Ou dos momentos que antecederam a fotografia, o sorriso. Lembro-me da estrada que nos levou até ali, das conversas. Mas ninguém nunca descreveu tão bem a sensação de olhar uma fotografia quanto o Leo Jaime e o Leoni na música “Fotografia”:
Hoje o mar faz onda feito criança No balanço calmo a gente descansa Nessas horas dorme longe a lembrança De ser feliz Quando a tarde toma a gente nos braços Sopra um vento que dissolve o cansaço É o avesso do esforço que eu faço Pra ser feliz O que vai ficar na fotografia São os laços invisíveis que havia As cores, figuras, motivos O sol passando sobre os amigos Histórias, bebidas, sorrisos E afeto em frente ao mar Quando as sombras vão ficando compridas Enchendo a casa de silêncio e preguiça Nessas horas é que Deus deixa pistas Pra eu ser feliz E quando o dia não passar de um retrato Colorindo de saudade o meu quarto Só aí vou ter certeza de fato Que eu fui feliz
Engraçado que, em uma semana, ao olhar as fotos, enquanto sentia saudades de tudo o que passou, escrevi nas redes sociais que as pessoas não deveriam olhar fotos antigas, tamanha a dor que aquilo poderia causar. Na semana seguinte, ao olhar novamente as mesmas fotos e algumas outras, escrevi que as pessoas deveriam sim olhá-las para relembrar os momentos vividos.
Escrevendo agora, mantenho minha posição. Repito: olhem suas fotos. De elas tornaram-se retratos que hoje colorem nossos quartos e casas de saudade, é a certeza de que fomos felizes (como diz a música). E não importa se nunca mais voltaremos àqueles lugares. Ou se jamais iremos rever aqueles amigos. Nem se não voltaremos a tomar aquele drink, ou comer aquela pizza.
Não importa se jamais voltaremos a rever aquele amor de inverno, ou se não veremos a neve cair novamente. A saudade faz parte de quem somos, do que vivemos. Só não podemos deixá-la nos impedir de vivermos o presente. Entretanto, como o presente anda um tanto quanto estagnado, tenho aproveitado o saudosismo bastante, diga-se de passagem.
Antes de ir, gostaria de deixar-lhes com as paisagens de uma das minhas maiores saudades: minha viagem à Itália, em 2011. Espero que gostem e apreciem, tanto quanto eu.
Karina Mendonça é jornalista e escreve desde os 17 anos, pois acredita que as palavras podem fazer coisas maravilhosas, desde mudar o mundo, até fazer alguém sorrir. Ou chorar.
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