Hoje os jornais estão cheios de notícias, que ninguém pediu para saber. Em Minas Gerais, como na Bahia, há pessoas que não dormem, não comem, e sonham demais. Só que isso não se torna manchete. O dia que nasce reforma a oportunidade de esperar o próximo que virá, mas que não chega. Os homens desaprendem o agora, e será assim até já não existam céu ou inferno de pagamento. Como poeta, tenho café, pão, livros. Ouço algum adágio de Bach. Observo o horizonte. Tudo me sobra, inclusive a memória. Acima de tudo essa memória. Triste lembrança da finitude das esperanças vulgares. Um míssil atingiu o Irã esses dias. O estúpido presidente vê nos livros textos em excesso. Alguém embarca para longa viagem de ônibus. A fatura do seguro automobilístico vence hoje… A servidão, senhores, voluntária. O progresso. Não choro mais, tampouco durmo bem. O conhaque me causa enjôos e solidão. Ouço pela janela um galo que canta pela terceira, ou sexta, ou nona hora, não sei. "É momento de fingir esquecer o amor". Aquele homem de barba seduz a mulher. O medo reúne mais que a coragem. Ardência se torna cuidado. São memórias. Mefisto virá, cedo ou tarde, picotar o bilhete. "Sê bem vindo, temos bolo no forno!" Restam, então, a arte e a revolta contra jornais, mísseis, memórias, agressores. Longe da justiça tudo se torna poema, a ser declamado pelos que têm as mãos sujas. Precisamos ensinar pessoas a ler, é isso! Na mesa do café eu escrevo enquanto me lembro. Que virá depois? Provavelmente a distração. Assim fomos feitos: amar e distrair. Senta Mefisto, vamos conversar. Mude de ramo. Vá fotografar, fazer veraneio, se torne tatuador. Aqui está tudo certo. Já aprendemos o caminho, e chegaremos antes do chá das cinco.Dentro do quarto Quatro almas tem um parto Parto porque já é hora de partir no meio Toda a angústia e dor que carrego por ser feio
Vinícius Lara é historiador, fotógrafo amador e um apaixonado pelo absurdo.


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