me quero aberta em cálice e vinho e pão ⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀fenda rasgada de ritos ⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀ hábito deitado à fogueira onde abrasam as peles recém-expostas ⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀ a carne viva pulsa porque viva porque crua porque fera e primeira mulher serpente e desfrute ⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀ me quero imersa corpo inteiro no indevido lambendo o caminho desviado ⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀com a mesma língua ⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀dos cânticos ⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀ o sacro e o santo molhados da espera com a sede dos abstêmios e dos crédulos em desgraça ⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀e eu graal sacrílego ⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀⠀⠀⠀ ⠀⠀⠀estou nua e disso não me envergonho
Milena Martins Moura é poeta, editora e tradutora. É autora dos livros Promessa Vazia (2011), Os Oráculos dos meus Óculos (2014) e A Orquestra dos Inocentes Condenados (Primata, 2021, no prelo), além de editora da cassandra, revista de artes e literatura voltada exclusivamente para o trabalho de mulheres. Integra também as equipes de poetas do portal Fazia Poesia e de colunistas da revista Tamarina Literária.