Se você clicou aqui esperando ler sobre relacionamentos românticos, pare. Clique aqui pra ler um escrito antigo, mas que permanece afinado com as minhas atuais concepções sobre relacionamentos, amor e liberdade.
Eu ainda me lembro da primeira vez em que acessei o Facebook; foi em 2011, e a minha intenção era apenas jogar CityVille. Sei exatamente qual foi a minha primeira postagem no Instagram, e quando foi: em 2013, uma foto de balinhas de tamarindo no feed com um filtro muito do brega. A primeira vez que ouvi falar no Twitter, também me lembro quando foi: em 2010, assistindo ao Acesso MTV, apresentado pela MariMoon na época. Nessa mesma época, eu administrava diversos fanblogs no Tumblr e no FlogVip, um Blogspot de poesia autoral, um WordPress de crítica de filmes, e me comunicava ostensivamente via MSN e Skype; e antes disso, eu já tinha estado no Orkut (desculpa, mãe) e no Flogão. Meu primeiro meio de comunicação online foi o e-mail que minha mãe criou pra mim quando ganhei meu primeiro computador, no meu aniversário de 8 anos – e foi só uns anos depois, em 2008, que internet virou coisa de todo dia na minha vida; no início, era discada, restrita a fins de semana e madrugadas, e depois, tinha tempo controlado pra não gastar demais.
Muitos que me leem vão estar pensando: “mas eu sou da época do ICQ!”; e tudo bem. Não é uma competição de quem capinou mais mato desde que chegou aqui, é só a exposição de um raciocínio indutivo para chegarmos ao ponto que quero fazer.
O tempo passou, e o que era um divertimento – uma “paquera”, por assim dizer – se tornou bem mais sério: me formei Jornalista, e trabalho com mídias sociais e digitais desde que me entendo enquanto profissional. A minha relação com todas as mídias que permaneceram ativas desde então, e com as que surgiram nesses últimos 12-13 anos, se tornou um casamento. Um casamento abusivo, eu diria. Relação de centavos. Não precisa muita pesquisa pra se inteirar de dados científicos que alertem sobre o vício em redes sociais, sobre os prejuízos que o uso ostensivo delas podem causar à saúde e sobre o impacto que elas têm na vida de parcela considerável da população, que passa a medir sua própria vida e individualidade pelo metro instagramável. O que venho percebendo, porém, é que sair das redes sociais não é mais suficiente. Quanto mais nos movimentamos para sair, mais elas nos tragam; isso porque são elas próprias que ditam como devemos nos desligar delas e, mesmo quando não estamos postando e engajando, estamos olhando o mundo através de suas lentes. Ou será que você consegue se deitar na rede e abrir um livro pra ler sem tirar nem uma mísera fotinha?
Pessoalmente, eu tenho sérias dificuldades. Tenho dificuldades em brincar com Elis e Elza sem querer gravar tudo de absolutamente adorável que elas fazem. Fui ao show da Duda Beat há algumas semanas, e foi simplesmente IMPOSSÍVEL pra mim não gravar pelo menos um trecho de cada música. Entre as minhas amigas, não é incomum brincarmos: “deixa eu tirar foto porque senão não aconteceu”. Hoje mesmo, dia que estou escrevendo este texto, vou dar uma festa na minha casa e já estou pensando em como posso fazer fotos com as meninas para encaixarmos no mais recente top-áudio do Reels. E quem me segue nas redes sociais não sabe, mas 99% de tudo isso não chega a público; fica acumulado no celular, no computador. E esse acúmulo, seja ele postado ou não, enquanto resultado de um processo e de um recorte pelo qual enxergamos o mundo, me causa sentimentos difíceis.
Essa lente, esse filtro com o qual vestimos nossos sentidos e percepções, me angustia. Invariavelmente, me pego dividida entre a avidez que sinto em registrar e a sensação de que, ao fazer o registro, estou perdendo o momento. Mas não seria o registro uma forma de focar no presente, nos arredores, em detrimento da ansiedade sobre o passado e o futuro, da espiral interna que nos torna alheios ao mundo ao redor? O que é efetivamente ‘curtir o momento’, tantas vezes colocado como contraponto ao ímpeto de fotografar e gravar? E por que a imersão real em algo não poderia incluir o registro?
Essas perguntas permanecem em aberto, e talvez eu nunca consiga respondê-las. Ai de mim, que sou metódica e vivo na busca constante pela forma ideal de viver a vida. O incômodo e a dúvida, porém, mesmo quando nascem de uma relação de centavos, são sentimentos de milhões.
Carol Cadinelli é mulher de palavras (e, às vezes, de fotos). Jornalista pela UFJF, pós-graduanda em Produção Editorial pela LabPub. Gosta de comidas inusitadas, viagens grandes e pequenas, narrativas sáficas, tatuagem, exposições de arte e de São Paulo, onde divide um apartamento com Elis Regina e Elza Soares. Atua profissionalmente como editora na Trama e redatora na VCRP Brasil.
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