Sou carne, pura carne e ossos largos, tenho os pés compridos. Desde que aprendi a rezar tenho as mãos parecidas com as da minha avó, sou a memória do que se fez jovem à minha mãe, sou a fotografia que meu pai não tirou.
Faço anos nessa terra, pareço pisar em um formigueiro, acredito que fui lograda várias vezes, e de repente, quando a estrela explode, nada disso importa.
Sou do tamanho de uma arquea para a lua, como os tambores de guerra dos soldados são como o assovio do vento para o céu, e bilhões de homens há bilhões de anos luz do que é vida, quando morrem e quando matam, quando fazem dinheiro ou quando choram de joelhos são, também, poeira no universo.
Se criam antídotos para a morte, feitos de morte. Se dirigem máquinas para chegar mais rápido porque querem viver mais tempo. Se os sobra tempo de vida e gastam-no com trabalho. Se tem ideias absurdas, gargalhadas horríveis e suas belezas os fazem monstruosos. Se inventaram o amor e levam as mãos à cabeça porque não puderam aprendê-lo, se guardam um arsenal, e enquanto a guerra não chega dançam música, nada disso importa quando a estrela explode.
Faço anos nessa terra, pareço pisar em um formigueiro. Não vejo as formigas. A estrela me vê?
Karine Padilha é natural de Xanxerê SC e vive em Florianópolis há 16 anos. Artista multidisciplinar e graduanda em psicologia, atualmente trabalha com psicologia e arte, realizando pesquisas e prestando atendimento no CEPSI- Centro de Produção de Saberes e Práticas Psicológicas (FLN SC) Em 2016 passou a estudar os resultados do fazer artístico no comportamento humano, e experimentar diversos recursos de criação e expressão, entre eles a fotografia a pintura e a escrita. Em 2017 escreveu o livro LUGEO que integrou a XI Entre Mostras da Fundação Cultural BADESC (FLN, SC). Em 2019 expôs o Projeto Poemas de Amor e Cataclismos na FAF, que compôs a Maratona Cultural da cidade (FLN SC). Neste ano expõe o auto retrato “Desaparecendo/Disappearing”em uma das maiores mostras híbridas do mundo, realizada em parceria com o Mostra Museu (Brasil) e The Covid Art Museum (Espanha), e desenvolve a Série Fotográfica “Retratos da Pandemia”, onde aborda a experiência da perda e do luto, e os impactos da pandemia sobre a saúde mental em tempos de isolamento social.
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