Sinto o cheiro das coisas se mexendo dentro de mim. Parece que meu corpo não me quer parado, não me quer esperando. Parece que às vezes meu corpo nem me quer, na real. Tento ver de onde vem o cheiro, pegar ele, aciono para isso outros olhos e o cheiro escapa, se vai, mas os olhos ficam e funcionam frenéticos, aglutinados no centro de minha cara. Eles, esses glóbulos incansáveis, se perdem vendo cada uma coisa diferente no mesmo instante. Invés de descobrir o cheiro retorno à síncope. Essa volta possibilita o desmanche do tempo no interior de meu corpo curioso, porque vejo o ali, o aqui e o antes, mas também os diversos lapsos entre esses tempos. Todos cozinhado no meu estômago. Sinto os fluidos no sentido negativo e positivo guiando esses tempos e, eles, os fluidos, perambulam dentro-fora desse grande órgão-ser-corpo, meu?
Até que ponto ele é meu?
Os líquidos negativos circulam com mais pressa quando começo elaborar essas questões. Até onde essas perguntas são minhas? Porque os negativos estão vencendo? Será que é porque estou chegando perto do cheiro ou porque passei direto? Os negativos disparam nas questões! Não quero perder a batalha, mas contra quem luto? Não parece ser comigo, mas está em mim. De quê é esse cheiro? Os líquidos negativos distorcem a visão. Quando olho no espelho confundo meu nariz com uma caramujo-mãe repleta de ovos. Como agir depois de ver coisas disformes que não se conversam entre si, sem harmonia, com dentes, estranhas e em alta definição? Ver assusta. Então é esse o cheiro? Cheiro de susto no cruzar das coisas? Cheiro de transformação? De aglutinação, criação e ligação? Um delírio do íntimo. Afirmei isso um dia desses depois de ouvir alguém do futuro ler suas magias. Os líquidos negativos cessam, mas meu órgão-ser lateja e treme, consecutivamente, feito uma estrela-do-mar debatendo-se em pedras. Sinto a pressão de ser-olhos, deito no chão e cheiro o resto do perfume no espaço, cheiro a sobra desse líquido positivo que é esse perfume. Viro a estrela. Viro as pedras. Viro o mar. Viro a trincheira e o choque entre eles. Tudo isso dentro de um quarto. Trazendo vida o perfume vem. Meus olhos confundem-se com o olfato. Esses meus olhões imprecisos. Se enganam para o meu alívio momentâneo. Transformo os fluidos negativos em espaços experimentes de liberdades breves que possibilitam o desconhecido como princípio de abandono desses dois polos duros de energias: + e -. Arrisco na multiplicação para continuar. Continuar na vida, mesmo sem decifrar claramente os cheiros e sem entender precisamente as visões. É como se a união desses sentidos criassem outros sentidos, inúmeros, ou como se reencontrasse alguns sentidos perdidos.
Keennyo Anderson, neto de Dona Dedé e filho de Ana. Atualmente cursa o 8° período do curso de Licenciatura em Teatro da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Tem como área de pesquisa a tentativa de friccionar por meio de construções ficcionais e artísticas a condição periférica da existência. Para essa tentativa investiga outras formas e epistemologias dos saberes artísticos que possibilitem a cura total e continua do ser, através das ações desse/a mesmo/a em contado com a paz criadora.
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