Só não existe o que não pode ser imaginado

Quando eu era pequeno, não sabia exatamente o que queria ser quando crescer. Na realidade, pensando sobre isso nos dias de hoje, percebo que muitas perguntas são tão intangíveis para nós quando crianças, que, mesmo adultos, não somos capazes de dar conta da sua real profundidade. 

Tratando do ser quando crescer, pra ser sincero, eu acho que nunca tive uma dimensão concreta sobre o tema. Eu já disse querer ser bombeiro, astronauta e uma infinidade de clichês heróicos que as crianças são estimuladas a cultivar, mas, de maneira geral, tenho a impressão de que nunca tive qualquer pensamento sobre uma projeção real do futuro, tenho pra mim que minha visão sobre a vida sempre foi presente. 

Quando criança, eu não pensava sobre os meus pensamentos. Esse nível de abstração é algo que só percebi que existia décadas depois. É fato que agora me ocupo de pensar sobre o pensamento quase em tempo integral, é como se eu fosse um espectador dos movimentos que minha consciência faz, mesmo sem ter certeza se eu sou a voz que fala na minha cabeça ou o corpo que a escuta, e é por esse motivo que tentar resgatar e investigar meus pensamentos de quando era criança tem sido um exercício extraordinário de pensar. E isso me proporciona elaborar outras infâncias possíveis. 

Muito embora eu colecione lembranças, a maneira como eu pensava naqueles momentos se encontra empoeirada em algum canto esquecido das minhas memórias. Todas as vezes que tento lembrar de como eu pensava a respeito de algum determinado tema, é como se a trilha de volta tivesse sido encoberta por escombros dos mais variados modos de viver que tentei construir. Quando era adolescente, lembro de me divertir com um grupo muito querido de amigos da minha vizinhança, a gente jogava futebol na rua, dava inúmeras voltas no quarteirão, passeava pelas praças e jogava muita conversa fora, muito embora esse intervalo de tempo seja considerável na minha vida, eu não sei dizer o que pensava sobre minhas relações, sobre minhas aspirações sobre o futuro, sobre quem eu poderia me tornar, eu simplesmente não consigo me lembrar ou elaborar esse pensamento. É como se eu só vivesse. E esse é o ponto desse meu último texto pra Trama em 2022. 

Desde 2012 a Bodoque tenta construir espaços de diálogo, produção e fruição artística em várias frentes. Nesses últimos 10 anos, colecionamos algumas conquistas e enfrentamos muitos desafios, como vocês bem sabem. Acontece que, olhando em retrospecto, tenho a impressão de que vivemos mais esse período do que pensamos sobre o que estávamos fazendo. Cada impulso criativo teve vazão no momento em que foi deflagrado e isso nos fez um polvo com múltiplos braços, que se agarrou no presente de cada ação, tentando aproveitar ao máximo sua potência de vida. Agora, me colocando como observador desse processo, vejo que a infância da nossa instituição cultural começa a desaguar em sua vida adulta, e somos capazes de projetar como queremos ser pelos próximos 10 anos. Temos muito o que viver e temos uma visão mais madura do que podemos ser. E talvez seja por isso que escolhemos a pureza da nossa infância como potência criadora para nossa vida adulta, queremos viver a beleza de sentir os futuros presentes com a consciência de que só não existe o que não pode ser imaginado. 


Frederico Lopes é artista, curador e educador, graduado em artes pela Universidade Federal de Juiz de Fora, especialista em gestão cultural pela FAGOC. Atuou no setor de curadoria e expografia do Museu de Arte Murilo Mendes de 2013 a 2017. Integrou a equipe de implementação do Memorial da República Presidente Itamar Franco, onde também trabalhou na curadoria e na coordenação da divisão de educação até 2021. É fundador da Instituição Cultural Bodoque Artes e ofícios (2012), da Revista Trama (2019), do Museu de Artes e Ofícios de Juiz de Fora (2020) e do Laboratório de Criação em Artes Visuais e Design (ARTELAB – 2020). É membro do Conselho Curador do Memorial da República Presidente Itamar Franco e suplente da vice-presidência do Conselho Municipal de cultura na cadeira de artes visuais. Também atua como designer na editora Harper Collins. É autor do livro: Ensaios sobre Arte e Cultura (2022). 


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