Nenhum outro dito popular representa tão bem o sentido da vida atual quanto esse do título, onde o coletivo perdeu-se por detrás dos muros engaiolados dos grandes condomínios, ou do firewall da banda larga dos citadinos modernos, cada vez mais ávidos por viverem em um Metaverso – a nova metáfora do individualismo humano, representada pelos sonhos e delírios juvenis de quem, provavelmente, sofre com uma séria crise de identidade.
Augusto Cury, psiquiatra e escritor brasileiro, nos lembra que “A individualidade deve existir, pois ela é o alicerce da identidade da personalidade (…) Não há duas pessoas iguais no universo. Mas o individualismo é prejudicial”. E não haveria como ser diferente, visto que, ontologicamente, somos seres sociais que apenas migraram de seus bandos ancestrais, para a vida nos agrupamentos urbanos, que hoje chamamos de cidade. Mas então, o que mudou?
Eu poderia ser simplista e dizer que esse é um efeito colateral da Pós-Modernidade, que nos fez viver em um simulacro de realidade – como Matrix, Blade Runner ou, de maneira mais moderna, um BBB. Mas não! Penso que a razão disso é anterior, e mais visceral.
Há alguns anos, eu presenciei uma cena que me marcou tão profundamente, que hoje retorno a ela. Em viagem a São Paulo, fui pegar um metrô, e ao chegar no guichê, acabei sendo surpreendido por um cadáver estendido no chão, ao lado da fila, onde usuários permaneciam frios e inertes, enquanto aguardavam a vez de comprar o bilhete. Em sinal de respeito, apenas um vigia, provavelmente para evitar o vilipêndio do féretro, enquanto a ocorrência não era finalizada. Nem uma vela, nem uma Ave Maria sequer eu ouvi.
Ao que me parece, a humanidade perdeu-se nos descaminhos do Ego, e confundiu gostar-se, com gostar apenas de si, o que pode ser percebido nas relações sociais e afetivas, cada vez mais complicadas e transitórias. Para além do aspecto emocional, estamos tratando aqui da perpetuação da vida em sociedade, cada vez menos real (e possível), e desculpas para isso não faltam: violência, depressão, desemprego, Covid-19, falta de empatia e até desamor.
A consequência disso? Gerações nascidas acreditando que o “natural” é ser sozinho, cuidar da própria “individualidade” e da carreira (apenas). Mas e o outro lado? Ninguém é uma ilha, nem tampouco sobrevive sozinho em uma caverna. Como conviver com o diverso, com aquele que é diferente de mim? Mudando para um Conto de Fadas tecnológico, onde crio um fake travestido de Avatar?
De maneira pessimista, o Filósofo Luiz Felipe Pondé afirma que: “De alguma forma, a marca definitiva do contemporâneo é o narcisismo estéril e o individualismo histérico”, e quiçá ele esteja correto. Contudo, na condição de Homem de Letras prefiro continuar lutando contra finais trágicos, e acreditando que vale a pena querer-se bem, como também cuidar do outro. Ainda assim, se tudo der errado, e eu for expulso desse mundo acinzentado, que me mandem para Pasárgada, pois lá posso ser meu Alter Ego original.
Sérgio Soares:
Homem de Letras e Escrevinhador que desenha as palavras, assim me defino. Através da escrita me reencontro, me descubro e reinvento. É através das minhas personagens, e do mundo ficcional que criei, chamado Prosperidade, que faço a catarse de todos os meus dramas, dilemas e regozijos. Enquanto Professor não poderia deixar de ter como tema a Educação, em especial a Básica Pública, mas enquanto Homem da Pólis também discuto Política e Conjuntura, entendendo ser esse o papel social de um formador de opinião.
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