A potência do ensino quando ligado à cultura  

Paulo Freire (1921-1997) foi um educador brasileiro que se destacou por seu método de alfabetização para adultos e se baseava em uma educação que fosse ferramenta de transformação da sociedade. Daí surgiu sua principal obra, Pedagogia do Oprimido (1968), sendo uma das 100 obras mais requisitadas nas universidades de língua inglesa. Logo, o livro A importância do ato de ler, publicado em 1982, é mais uma de suas obras que trata do tema da alfabetização. Esta obra não só nos faz refletir a fundo sobre a importância da alfabetização, mas também mostra como o fazer de modo crítico e efetivo, para que, de fato, alcance uma potência transformadora. 

O livro reúne três textos que dialogam entre si. São eles: A Importância do ato de ler (1); Alfabetização de adultos e bibliotecas populares — uma introdução (2) e Alfabetização em São Tomé e Príncipe (3). 

No primeiro capítulo encontramos o texto chave de todo o livro, onde Freire traz o conceito “palavramundo”. Seu significado nos remete a pensar que a leitura de mundo antecede a leitura da palavra, e esta serviria como uma extensão daquela sem causar ruptura, embora muitas vezes seja este o modo com que a educação tradicional tenha lidado com a leitura. 

No segundo texto nos deparamos com uma longa discussão envolvendo diversos assuntos, dos quais podemos destacar a educação e a política, a relação professor-aluno e o fomento à criação de bibliotecas populares. Em relação a esta última, Freire destaca a necessidade de existirem bibliotecas com acervo organizado e até criado pelo povo local de uma região, de modo a perpetuar a cultura local e inserir os indivíduos no mundo da leitura de forma contextualizada. 

Por fim, vemos as ideias até então apenas verbalizadas por Freire agora ganharem vida. Depois de uma vasta reflexão, no último capítulo, Freire nos apresenta de maneira concretizada a sua proposta de alfabetização para adultos em formato de cartilhas, estes são os chamados Cadernos de Cultura Popular. Freire explica como os materiais foram montados e traz trechos dos Cadernos, os quais são organizados conforme o grau de dificuldade e seguem uma lógica, isto é, todo o conteúdo foi pensado de maneira crítica conforme a a conjuntura daquele povo. Esta proposta foi realizada numa região da África — São Tomé e Príncipe — cuja língua oficial é o português. Vejamos um exemplo: 

Vamos ler  

Escola  

Roça 

Terra  

Plantar  

Produto  

Antes da Independência, a maioria de nosso Povo não tinha escolas. As roças, com suas terras de plantar, pertenciam aos colonizadores. O produto de nosso trabalho era deles também. Com a Independência, tudo está ficando diferente. Temos mais escolas para nossas crianças e o Povo começou a estudar. 

Sob meu olhar, esta obra de Freire é estruturada de uma maneira excepcional, pois inicia nos fazendo mergulhar no entendimento de Freire e finaliza mostrando de uma forma concreta como toda a sua proposta se daria. Além disso, devo dizer que em muito concordo com o pensamento crítico de Freire, fazendo recordar de um teórico que gosto muito, David Ausubel, autor do conceito de Aprendizagem Significativa. Tal conceito considera o conhecimento prévio do aluno, isto é, considera a sua cultura no momento do ensino, e a partir disto, o professor apresenta um novo conceito ao estudante, resultando num conhecimento construído de maneira compartilhada e não por uma única via — a do professor. Certamente, todo o fazer educacional deve ser feito de maneira crítica e acolhedora, e não de forma mecânica e impositiva, pois devemos nos preocupar em formar seres pensantes e não somente nos contentar com indivíduos capazes de decodificar letras. Ou seja, isso implica que não rejeitemos a vivência cultural daquele que está aprendendo. E quanto a isso, Freire tem muito a agregar, como se percebe nesta leitura. 

Sem dúvidas, esta obra é recomendada a qualquer estudante ou atuante da área da educação e/ou todo aquele que se importa com a qualidade da educação e a valorização da cultura, pois as reflexões e provocações ali presentes em muito nos impacta e nos conscientiza sobre o trabalho educacional, fazendo-nos atentar para o quão importante é inserir a cultura de um indivíduo no processo de aprendizagem. 

 


Mayara Tavares Morais é graduanda em Letras Português pela UNIVALI – Universidade do Vale do Itajaí. Atualmente trabalha como Assistente Educacional em uma escola pública de Ensino Fundamental I (1° a 5° ano) na cidade de Camboriú – SC. É uma jovem que aparenta ser mais nova do que realmente é, mas seu interior parece como o de uma senhora. Sua inspiração vem do alto e ela adora finais de tarde, e curiosamente, adora pisotear folhas secas caídas das árvores.

mayara.tm  


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