Por que Heartstopper (2022) é uma obra que incomoda? – Um olhar acerca do homem gay na ficção dramatúrgica geral e moderna. 

Eu me lembro do outubro de 2019, foi quando no meu quarto, em um fim de tarde chuvoso, que eu decidi, pela primeira vez na vida, assistir a um filme gay, Maurice (1987) de James Ivory, naquela ocasião, percebi um pouco tarde demais o tamanho do meu erro, principalmente para alguém que atualmente se identifica como demissexual. 

Quatro ou cinco anos depois, estava eu no mesmo quarto, assistindo, por influência de alguns amigos, uma série da Netflix chamada Heartstopper. No fundo, estava satisfeito, já finalmente alguém havia feito algo sincero e positivo para garotos e rapazes gays, uma vez que são como peixes em um oceano, a quantidade de livros, filmes, séries e obras que representam o homem homossexual sempre como o alívio cômico, o acessório favorito da mulher cis ou o portador do vírus da AIDS, e este ultimo sendo tão repetitivo quanto o papel de pessoas negras sempre sendo subordinadas de pessoas brancas. O ponto principal da série parece ser conscientizar de que a homossexualidade em si não se resume apenas a um antagonismo, mas um lado do espelho que merece uma atenção exclusiva do público.

Pessoalmente, como um homem gay em 2023, percebo o quanto a arte e a cultura estão enterradas em esteriótipos ignorantes em relação a todas as siglas do movimento LGBTQIAPN+, uma vez que coisas comuns na vida de personagens heterossexuais continuam distante de serem retratadas claramente na vida de personagens homo, tais como casamento, relações monogâmicas, etc; e isso talvez se deve pela influência pela cultural e social de relações do tipo, tanto que é possível ver, em pleno século XXI, muitos homens gays possuírem um comportamento de competição e de misoginia, enquanto a maioria da sociedade se comporta de forma retrógrada, com uma espécie de filtro cor-de- rosa a respeito da conscientização dessas causas importantes, e poucos se educam verdadeiramente. Outro fator que leva o homem gay a ser mal representado, se aplica a alguns escritores, e dramaturgos importantes, que insistem em tratar a homossexualidade sempre como algo sujo ou degradante, e ainda sim são nomeados considerados gênios, heróis literários. A exemplo, posso citar o renomado autor Nelson Rodrigues, já que em suas obras, a sexualidade dos homens gays foram eternizadas por meio de estereótipos, como o nomeado enrustido, ou alguém que apenas “virou gay”, pois essa foi a consequência de algum abuso sofrido. Essa forma de representação apenas atrasa e mancha mais, não só a sexualidade homossexual em si, mas qualquer representação da sexualidade do homem moderno que não seja, mesmo que de forma leve, machista ou agressiva.

Recentemente, em junho de 2019, a homofobia passou a ser considerado um crime no Brasil, agora um direito básico passa a ser uma conquista, já que atacar ou até tirar a vida de um ser humano por uma simples característica natural, é o que realmente deveria ser considerado degradante e ruim na sociedade moderna. No final percebe-se a série Heartstopper (2022) incomoda, e até gera revolta, não só pelo fato de ser uma narrativa sobre casais gays ou casais lésbicos, mas sim pelo fato de tratar de forma natural e suave. algo que a sociedade insiste tratar como nojento, feio e grotesco, usando como artifício uma homofobia casual e solene.


Samuel F. Quadros é um estudante, roteirista e escritor independente. 

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