Qual o (não)lugar das Artes Visuais na era de ascensão da IA?

É sabido que a Arte é um dos produtos das relações humanas com a materialidade, técnicas e interações sociais, e como reafirmado por COLI (1995) “É possível dizer, então, que arte, são certas manifestações da atividade humana diante das quais nosso sentimento é admirativo” e ainda, de acordo com COLI (1995) ele corrobora com a intencionalidade humana e seus artifícios de definição de arte, pois “Para decidir o que é ou não arte, nossa cultura possui instrumentos específicos. Um deles, essencial, é o discurso sobre o objeto artístico, ao qual reconhecemos competência e autoridade.”, e o discurso é parte do pensar humano. 

Nesse lugar ainda, (BIESDORF E WANDSCHEER, 2011) temos que “A arte se mostra presente na história da humanidade desde os tempos mais remotos. Sem dúvida, ela pode ser considerada como sendo uma necessidade de expressão do ser humano, surgindo como fruto da relação homem/mundo.” Ressalta-se aqui a ideia de que desde os primórdios, reflete-se em arte aquilo que comunicamos, pensamos e sentimos. 

A contemporaneidade carrega consigo avanços significativos no sentido do fazer e pensar, já que promove subterfúgios tecnológicos como: digital, novas materialidades, exploração de novos suportes, liberdade criativa, diferentes linguagens, novos meios de comunicação e interação social. No entanto, promove também a criação de novos tempos, onde a efemeridade é a base. No caso, não mais como uma característica de possibilidade criativa, mas como um impacto na forma como nos relacionamos com as coisas e as pessoas. 

Parte disso reverbera das revoluções industriais, primeiro a máquina a vapor e a substituição do trabalho manual, depois mudanças de materialidade, em seguida o aparecimento de computadores até os tempos atuais onde surge a Indústria 4.0 definida por (REIS, MIRANDA E DAMY, 2019) em: 

(…) denominada Revolução Industrial 4.0 onde a automação e os dados são utilizados para tomada de decisões empresariais e domésticas. Estão presentes em diversas áreas, desde a economia, educação, artes, administração pública e privada, que agora se estende ao Direito. Dentro do patrocínio jurídico, emerge conceitos como Big Data, Machine Learning, Deep Learning, Python Programming Language, sistema R, entre outros, todos derivados de otimizadores de processos, que através algoritmos e jurismetria oferecem aos Operadores do Direito várias ferramentas cognitivas e preditiva denominada genericamente de Inteligência Artificial. 

O entendimento sobre o que é IA, segundo SICHMAN (2021) perpassa por 

(…) Cabe ressaltar que não existe uma definição acadêmica, propriamente dita, do que vem a ser IA. Trata-se certamente de um ramo da ciência/engenharia da computação, e, portanto, visa desenvolver sistemas computacionais que solucionam problemas. Para tal, utiliza um número diverso de técnicas e modelos, dependendo dos problemas abordados. 

Em tempos outros, como no início das tendências modernistas do fazer artístico e o advento da máquina fotográfica, o campo da arte e os próprios artistas questionaram seu lugar no mundo e seu ofício. Foi preciso, então, ressignificar o próprio fazer e atribuir novas perspectivas sobre a prática da arte. Aqui, vale ressaltar que mesmo com a integração da máquina e a contestação sobre a perda de espaço do artista-pintor substituído pelos retratos automatizados, ainda, sim, eram precisos a gestão e o olhar humano nessa produção.  

As máquinas vêm ganhando espaço no nosso cotidiano, como mencionado anteriormente desde os tempos das primeiras revoluções industriais. Hoje, quase que temos como uma extensão de nós mesmos na palma de nossas mãos: os celulares.  

E, após três anos de pandemia de Covid, ao qual necessitamos estar presos às telas, seja como forma de manutenção das relações ou de reinterpretação da forma de trabalho, surge em nossa trajetória pessoal e profissional, a Inteligência Artificial, no qual com um botão de ok e um espaço em branco que se depositam “ideias”, ela disponibiliza diversas opções de imagens criadas ao acaso através do auxílio de algoritmos que “nada mais é do que uma sequência finita de ações que resolve um certo problema” (SICHMAN, 2021) com duvidosa qualidade estética e sem nenhum “q” de humanidade. 

A informação que outrora demorava uma noite inteira para ser impressa e exposta nas bancas por aí e enfim nos alcançar, hoje nos atinge a cada segundo nas notificações que brotam em nossas telas.  Quanto mais rápido, melhor. Quanto mais em menos tempo, melhor. E, segue.  

Mas, se a arte é produto do ser humano e suas potencialidades, qual ou quais atravessamentos a IA tem diretamente no campo da produção artística? A tecnologia não é um conjunto de facilitadores para a vida em sociedade?  

A IA não tem e não produz o sentir e o comunicar. Ela é uma produtora de imagens e só. Não há repertório, não há vivência, não há senso crítico. O que há é uma junção de algoritmos e esses, não compreendem as lutas e as pautas por trás de um fazer artístico. 

REFERÊNCIAS 

BIESDORF, R. KLOH; WANDSCHEER, M. FERREIRA. Arte, uma necessidade humana: função social e educativa. Revista Eletrônica do Curso de Pedagogia do Campus de Jataí – UFG. Vol n.11 2011. 

COLI, Jorge. O que é arte. 10º edição, São Paulo: Brasiliense. 1989 

DATHEIN, RICARDO. Inovação e Revoluções Industriais: uma apresentação das mudanças tecnológicas determinantes nos séculos XVIII e XIX. Publicações DECON Textos Didáticos 02/2003. DECON/UFRGS, Porto Alegre, Fevereiro 2003. http://www.ufrgs.br/decon/  

REIS, H. M. GUÉRIN; MIRANDA, L. F. PRADO DE; DAMY, A. S. AZEVEDO. A inteligência artificial – IA: à disposição dos operadores do direito artificial intelligence – ia – at the disposition of law operators. Revista do Curso de Direito do Centro Universitário Brazcubas V3 N1: 2019. 

SICHMAN, S. JAIME. Inteligência Artificial e sociedade: avanços e riscos. Estud. av. 35 (101) 2021 disponível em <https://doi.org/10.1590/s0103-4014.2021.35101.004.> 


Juliana Monteiro de Souza Dias, atua como arte-educadora. É formada no antigo Bacharelado Interdisciplinar em Artes e Design (IAD – UFJF) e em Licenciatura em Artes Visuais(IAD-UFJF). Sua trajetória de vida sempre esteve vinculada ao campo da arte e da criatividade. Logo na fase de Educação Infantil, criava telas e compunha poemas, durante o ensino fundamental I e II explorou diversas linguagens entre dança, artes cênicas, fotografia e artes visuais, e durante o Ensino Médio, tomou a decisão de se manter nesse caminho, ingressando no curso de Artes e Design.  Hoje, é aluna do curso de Mestrado no programa de Pós-graduação em Educação na UFJF.


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