Mulher nenhuma tem o próprio corpo

Foto de Anna Karolina Berghman para a Videoarte: O (re)nascimento da mulher-uivo

Um Corpo

Mulher nenhuma 

tem o próprio corpo 

somos sangue jorrando 

estancado às pressas num grito  

(abafado) 

somos incêndio 

presença radical 

corpos narrativos 

corpos-gênese 

úteros do mundo 

a parir 

recomeços 


Notas sobre o patriarcado

foucault disse: 

sociedade disciplinar 

marx disse: 

sociedade de classes 

deleuze disse: 

sociedade do controle 

byung-chul han disse: 

sociedade do cansaço 

A Mãe diz: 

Às minhas custas. 

“No princípio era a Mãe.  

O Verbo veio muito depois.” 

Marilyn French 

Cena do curta-metragem Barba Azul DECAPITADO
(Foto de Anna Karolina Berghman)

(foto de Anna Karolina Berghman)

Pequeno poema de terror (ou apenas puerpério) 

Tirei o bebê do peito 

coloquei no colo 

aliviada 

horrorizada: 

do berço 

ele me olhava 

onde eu estava? 

onde eu estava? 

onde eu estava? 

onde eu estava? 

onde eu estava? 

onde eu estava? 

onde eu estava? 

onde eu estava? 

onde eu estava? 

onde eu estava? 

onde eu estava? 

onde eu estava? 

onde eu estava? 

onde eu estava? 

onde eu estava? 

onde eu estava? 

onde eu estava? 

onde eu estava? 

onde eu estava? 

onde eu estava? 

onde eu estava? 

onde eu estava? 

onde eu estava? 

onde eu estava? 

onde eu estava? 

onde eu estava? 

onde eu estava? 

onde eu estava? 

onde eu estava? 

onde eu estava? 

onde eu estava? 

onde eu estava? 

onde eu estava? 

onde eu estava? 

onde eu estava? 

onde eu 

estafa. 


Mãe Mãe Mãe Mãe Mãe Mãe Mãe Mãe Mãe  

Enquanto escrevo 

este poema 

minha filha me chama 

nove vezes 

por nove vezes 

eu paro de escrever. 

Queria versos cadenciados 

ritmados 

metáfora sinestesia antítese assonância anáfora aliteração 

mas 

“Mamãe, meu dente caiu” 

só permite o paradoxo 

do poema escrito 

às pressas 

-nas frestas- 

um quase-texto 

sobre a frustração. 

Cena de Barba Azul DECAPITADO
(Foto de Anna Karolina Berghman)

Cena do curta-metragem Barba Azul DECAPITADO
(Foto de Anna Karolina Berghman)

Ready-made  

Se apenas as dores existenciais  

do herói 

branco 

hétero 

de meia idade 

são universais 

Eu não posso escrever a minha dor? 

Este verso não pode ser sobre o peito dilacerado 

[vertendo abandono sangue leite? 

Por quê? 

até o homem universal já mamou. 


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